HERANCAS LINGUISTICAS DO NOSSO SAGRADO: CRENCAS E ATITUDES LINGUISTICAS SOBRE OS USOS DE PALAVRAS E EXPRESSOES DA LINGUA IORUBA NA REGIAO METROPOLITANA DO RECIFE
iorubá, léxico, crenças, atitudes, contato linguístico
Peço agô à minha ancestralidade para despertar cada palavra iorubá nas travessias desta pesquisa. São palavras trazidas em grande quantidade para Pernambuco, pois Recife possuía o terceiro porto do Brasil a receber pessoas escravizadas do continente africano. Melo (2021, p. 09) afirma que “pelo menos, 158 mil pessoas desembarcaram nestas praias”. De acordo com os dados da Fundação Palmares, a Região Metropolitana do Recife (RMR) possui 2.500 terreiros de matriz africana. A presença da língua iorubá, nesses espaços, é algo evidenciado em vários estudos, como constata Carvalho (1993, p. 13): “a existência de textos sagrados em língua iorubá, preservados no Brasil através de práticas dos cultos às divindades e aos ancestrais dessa nação africana, tem sido mencionada extensivamente na literatura sobre os cultos afrobrasileiros desde o final do século passado”. Ao contrário dos vocábulos de origem bantu (por exemplo, “cochilar”, “caçula”, “dengo”), as palavras e expressões de origem iorubá têm sua origem africana facilmente identificada e discriminada, a saber: “axé”, “Exu”, “vatapá”, “atabaque”, “"Epa Babá", “Ora iê iê ô”. Diante disso, desenvolvi um estudo empírico para analisar as avaliações subjetivas de moradores(as) da RMR, acerca dos usos de palavras e expressões em iorubá. Parti da hipótese de que os dois grupos de colaboradores(as) apresentarão crenças linguísticas distintas, estando o grupo candomblecista com as crenças positivas acerca dos usos de palavras e expressões em iorubá e o perfil não candomblecista com crenças negativas. Tomei como base alguns estudos sociolinguísticos e da psicologia social que também investigaram as avaliações subjetivas, entre eles: Labov (1963) e Lambert e Lambert (1960). Para a coleta dos dados, apliquei três questionários: a ficha social; o teste para a coleta de crenças linguísticas, com perguntas objetivas, de “sim” ou “não”; e um outro utilizado para obter os dados de atitudes linguísticas, pautado na escala Likert, com cinco alternativas para escolher uma. Esses instrumentos foram respondidos por um total de 100 colaboradores(as), divididos(as) em dois perfis distintos, que aqui chamarei de P1 e P2, tendo em vista que desenvolvo uma análise comparativa das crenças e atitudes linguísticas. O P1 (perfil 1) é composto por 50 pessoas do candomblé. E P2 (perfil 2), formado por 50 pessoas que nunca fizeram parte da religião de matriz africana. Levei em consideração três variáveis de controle para estratificar os(as) colaborares(as): faixa etária (18 anos ou mais); origem territorial (nascer ou mora na RMR há mais de 5 anos); e pertencimento religioso (ser de um dos dois terreiros da pesquisa, ou não pertencer à religião de matriz africana). Apresento, neste texto de Qualificação da Tese de Doutorado, os resultados preliminares já obtidos, centrando a atenção na análise das crenças linguísticas. Em linhas gerais, os resultados contrariaram minha hipótese inicial, pois os dois perfis apresentaram crenças linguísticas favoráveis quanto ao uso de palavras e expressões em iorubá, entretanto, o racismo religioso e linguístico desperta o sentimento de medo em P1. Quanto a P2, é um perfil de colaboradores(as), em sua maioria, com postura progressista, no entanto, com o distanciamento linguístico.