O DESEJO COMO RITUAL DE PASSAGEM EM O SOL DAS ALMAS DE HERMILO BORBA FILHO
Desejo. Hermilo Borba Filho. Freud.
O desejo em sua origem greco-latina, como apontado por Di Giogi (1990), remete-se à necessidade incontrolável do ser humano em tomar e ser tomado por algo. Tal necessidade, inclusive, pode levar o homem a esmorecer pela simples ânsia de possuir aquilo que deseja. Nesse sentido, pode-se afirmar que a humanidade sempre precisou lidar com a tentativa constante e frustrada de ligar-se a algo maior e passou a acreditar que sua felicidade existia apenas na possibilidade de satisfazer-se em tal objeto. É interessante observar, no entanto, que embora a ciência passe por várias modificações ao longo dos séculos e a percepção de desejo tome novas cores através dos estudos psicanalíticos de Freud (1900), a ideia de ser e possuir o inalcançável não esmorece. Assim, ao explorar as vicissitudes humanas na literatura, Hermilo Borba Filho aborda de maneira exemplar tal emoção em seu segundo romance Sol das almas (1964), expondo como, ao ser tomado pelo desejo, um homem pode chegar à loucura. Assim, através da presente dissertação, procura-se investigar como Jó, um pastor da cidade de Palmares, passa a encarar uma cisão entre seus desejos e as expectativas criadas que o mundo possui a seu respeito devido a sua profissão e posição social. Em sua jornada, Jó passa a ter vários objetos de desejo, desde um livro pornográfico até a esposa de seu médico, sendo preciso lidar com a culpa de desejar e o medo de ser pego elaborando seu pecado. A dicotomia da obra não se encerra no simples sentir do homem, mas em como o autor conseguiu transpor tais sentimentos para a estrutura do romance, através de elementos teatrais e linguísticos. As discussões e análises serão pautadas em estudos de teóricos como Freud (2011), (2015), Reis (2012), Todorov (2011), dentre outros.