POÉTICAS DO ESTRANHAMENTO EM (COM)POSIÇÃO NA CENA TEATRAL: NO (RE)MONTAR DO TEMPO, O (DES)MONTAR DA HISTÓRIA
Discurso. Corpo. Imagem. Estranhamento. Teatro. Olhar.
Ancorado nas bases teórico-metodológicas da Análise de Discurso de Michel Pêcheux (1988, 2010, 2015) e Eni Orlandi (1984, 1995, 2012, 2015), esta abordagem se propõe a entender de que modo as materialidades significantes (LAGAZZI, 2017, 2022) em (com)posição na cena teatral produzem, das fissuras abertas na imagem do tempo (DIDI-HUBERMAN, 2013, 2017), um efeito de estranhamento (BRECHT, 1967, 1978), donde a possibilidade da ruptura nos modos de ler e dizer o já-dito da história. O material selecionado para análise trata-se do espetáculo teatral A Hora da Estrela ou o Canto de Macabéa, dirigido e adaptado por André Paes Leme a partir do romance de Clarice Lispector. Metodologicamente, nos debruçaremos sobre este objeto a fim de fragmentar em unidades discursivas (ORLANDI, 1984) as formulações visuais em cuja tessitura são forjadas as poéticas do estranhamento. Assumindo o artístico como rasgadura da imagem (LARA, 2022, 2023), insistiremos, para esta empreitada, na tomada do olhar como um instrumento de ancoragem (LAGAZZI, 2017) capaz de esboçar, na interpelação do ideológico e do inconsciente, trajetos (im)possíveis de apreciação, para o sujeito-expectador, e de análise, para o sujeito-analista, em face do corpo em estado de arte, o corpo-tela (MARTINS, 2021), este que não se apresenta, no âmbito do teatro, senão como objeto, lugar e meio de imbricação material central no talhar dos furos e (re)arranjos possíveis para o outro dos sentidos.