Extirpar demônios, colonizar almas: Demonologia e Conquista espiritual no Peru Colonial (Séculos XVI e XVII)
Demonologia, Vice-reino do Peru, séculos XVI e XVII
A presente pesquisa parte da observação de que ao longo dos processos de Conquista e Colonização da América a Demonologia encontrava-se em plena ascensão no plano ocidental e de que esta foi uma das vertentes teológicas que atravessou os religiosos atuantes no Peru Colonial, constituindo, pois, o paradigma de apreensão das práticas culturais e religiosas andinas bem o marco sobre o qual foram erguidas as campanhas de Extirpação de Idolatrias nele desenvolvidas. Isso posto, analisamos a configuração do discurso demonológico tecido sobre os territórios peruanos entre os séculos XVI e XVII, situando-o junto ao panorama maior da demonização da América. Metodologicamente, debruçamo-nos sobre um corpus de caráter documental composto por um conjunto de registros produzidos por religiosos atuantes no Vice-Reino peruano no período supracitado e que foram analisados à luz de investigações majoritariamente advindas da História Sócio-Cultural, da Antropologia Cultural e do Pensamento Decolonial. Em síntese, ao longo desta dissertação discorremos acerca do fenômeno da demonização da América; discutimos o papel do discurso demonológico ocidental junto à emergência das campanhas de Extirpação de Idolatrias levadas a cabo no Peru Colonial; situamos as narrativas elencadas junto à constituição da idéia da América diabólica tecida desde o século XVI e descrevemos como e sob quais circunstâncias, aos olhos dos religiosos, a demonolatria persistia sobre o Vice-Reino peruano entre os séculos XVI e XVII. Respaldam nossas discussões contribuições de investigadores/as como Jean Delumeau, Laura de Mello e Souza, Jorge Cañizares-Esguerra, Nicholas Griffiths, Iris Gareis, Irene Silverblatt, Pierre Duviols, Claudia Brosseder, Ana Raquel Martins Portugal, Márcio Pimentel Rocha, Flávia Ribeiro Amaro, Enrique Dussel, Aníbal Quijano e Walter Mignolo.