A CONSTRUÇÃO DO ETHOS TECNODISCURSIVO ORGANIZACIONAL EM INTERFACES GRÁFICAS DE APLICATIVOS PARA SMARTPHONE
Ethos; tecnodiscursividade; organização financeira; interface gráfica; aplicativo.
Este trabalho tem como objetivo geral investigar de que modo ocorre a construção do ethos de duas organizações financeiras, mais especificamente do Banco do Brasil e do Nubank, nas interfaces gráficas de seus respectivos aplicativos para smartphone. Para tanto, articulamos um quadro teórico que congrega estudos de diferentes campos do saber, destacando-se, sobretudo, as reflexões sobre ethos elaboradas por Maingueneau (2002; 2014; 2016; 2020) e Amossy (2010; 2016), bem como as considerações sobre tecnodiscursividade e discurso digital desenvolvidas por Paveau (2017; 2020b; 2021). Defendemos, a princípio, que as interfaces gráficas de aplicativos para smartphone podem ser consideradas texto, amparando-nos, nesse sentido, nas discussões encetadas por Koch (2015), Marcuschi (2008), Cavalcante et al. (2019; 2022), Novais (2008) e Goyet e Collomb (2016). Alicerçados, então, nesses pressupostos, recorremos à noção de ethos tecnodiscursivo, proposta por Glück e Boaventura (2023), a fim de elaborarmos a macrocategoria de ethos tecnodiscursivo organizacional, isto é, uma representação das organizações financeiras que se manifesta textualmente, na interação entre diferentes locutores humanos e não-humanos. O corpus para análise é composto por 29 prints das interfaces gráficas dos aplicativos do Banco do Brasil e do Nubank capturados em um smartphone modelo iPhone 11 no dia 17 de março de 2024. A escolha pelos bancos citados justifica-se na medida em que se trata de bancos com históricos distintos no que diz respeito à atuação no mercado financeiro e à interação com os clientes. Enquanto o Banco do Brasil é uma organização financeira tradicional, que surge no século XIX, em um contexto analógico, o Nubank, por outro lado, é um banco digital que desponta no século XXI como uma organização que opera quase exclusivamente por meios digitais, tornando-se, além disso, um parâmetro para outros bancos digitais. A análise preliminar dos dados revelou duas estratégias tecnodiscursivas proeminentes na construção do ethos tecnodiscursivo organizacional, quais sejam: a disposição topográfica dos elementos semióticos nas telas das interfaces e o uso de recursos (tecno)linguageiros para engajar os clientes na interação. Tais mecanismos convergem para a efetivação de um ethos “amigável” e “facilitador”, opondo-se, assim, a modelos culturais pré-estabelecidos sobre bancos como organizações “burocráticas” e “cansativas”.