O QUE TEM A VER INFORMÁTICA... COM SE VESTIR DE MULHER? Movimentos de atualização do corpo-imagem ciborgue, sexualidade e identidade de gênero nas tiras da Laerte
Análise do Discurso, Materialidade significante, Corpo-imagem ciborgue, Arquivo, Artefatos tecnológicos
Situando-nos teoricamente pela Análise do Discurso de base pecheuxtiana, para pensar a memória, o histórico e o ideológico na construção dos discursos como efeitos de sentido, este trabalho tem como proposta analisar a constituição do corpo-imagem dissidente pelo atravessamento dos artefatos tecnológicos nas tiras sobre a personagem trans Muriel-Hugo da cartunista Laerte Coutinho. Construindo efeitos de autoria, notamos que, em pouco mais de 50 anos de carreira, a cartunista multiartista tem produzido, por meio de suas tiras humorísticas, uma série de comentários acerca do corpo dissidente, principalmente focando no corpo-imagem trans, na medida em que mobiliza um gesto que aproxima dois universos discursivos que, aparentemente, poderiam ser considerados excludentes: a informática, incluindo seu funcionamento particular, considerando os artefatos tecnológicos como objetos com funções definidas e objetividade, reflexos do discurso neoliberal; e as sexualidades, considerando questões de identidade de gênero, os dispositivos da sexualidade na virada do século e, principalmente, os trajetos estéticos e políticos que o corpo toma para se tornar ou mobilizar discursos.
Metodologicamente, refletindo a partir da noção de corpo-imagem (Neckel e Flores, 2017; Neckel, 2019) e imbricação material (Lagazzi, 2021) para analisar a inscrição das imagens dos corpos no simbólico, somos levados a direcionar nossas analises das materialidades significantes, perguntando de que modo o tecnológico convoca o sujeito para a construção/desconstrução de seu corpo-imagem? Assim, separamos nosso arquivo em dois, sendo o primeiro referente ao corpus de análise compondo um recorte de 20 tiras, e o segundo, um corpus transverso (Grigoletto e Costa Carneiro, 2023), para considerar e sustentar as análises em relação às condições de produção do discurso. Nossas análises, por fim, direcionam o olhar para uma leitura sinuosa, evidenciando que, no entremeio do funcionamento do intradiscurso com o interdiscurso, na construção de metáforas que atravessam os corpos da artista e da personagem, um corpo ciborgue se constrói.