OS MOVIMENTOS DO DISCURSO NAS PRÁTICAS DA CULTURA DE CANCELAMENTO: SUJEITO, IDEOLOGIA, MIDIATIZAÇÃO
Cultura do Cancelamento; Espaço Digital; Mídias digitais; Análise do Discurso.
Na formação social em que estamos inscritos, o espaço digital determina materialmente a constituição, a formulação e a circulação dos discursos (DIAS, 2018), o que implica na imbricação entre aspectos tecnológicos e ideológicos (GRIGOLETTO, 2021) nos mais diversos movimentos dos sujeitos nas redes digitais e de sentido. Nessa conjuntura, práticas discursivas emergentes e heterogêneas são nomeadas como culturas, como ocorre com a chamada cultura de cancelamento. Com o amparo teórico-metodológico da Análise de Discurso Materialista (PÊCHEUX, 2010; 2014; 2015; 2016, ORLANDI, 2012; 2016 2017; 2020 dentre outros), esta pesquisa teve como objetivo geral contribuir com a compreensão da cultura de cancelamento como um conjunto de práticas simbólicas características da discursividade contemporânea, através de gestos analíticos que expõem a materialidade discursiva sustentadora de tais práticas, nas atuais condições de produção. Para isso, propus as análises: i) dos sentidos de/sobre cultura do cancelamento em dicionários online; e, ii) das discursivizações de/sobre o cancelamento de figuras públicas brasileiras em discursos midiáticos (DELA-SILVA, 2021). Nas análises, o batimento entre os discursos de/sobre (MARIANNI, 1996) a cultura de cancelamento aponta para: i) uma espessura simbólica determinada por sua exterioridade constitutiva; ii) o efeito de enredamento de sujeitos e sentidos determinado pela materialidade digital e pelas condições de produção; iii) a heterogeneidade que (des)organiza o funcionamento da prática discursiva de cancelamento, pois suas causas são de diversas ordens e seus efeitos são múltiplos. Como consequência da escuta discursiva (MARIANI, 2023), entendo a cultura de cancelamento enquanto um sintoma do refinamento das formas de exploração contemporâneas desempenhadas pelas mídias digitais, de modo que o reviramento produzido por esta prática discursiva transborda das telas dos dispositivos e afeta os sujeitos em seu laço com o social.