A CONVERGÊNCIA DE DOIS GIGANTES: o processo histórico de construção das relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China entre os anos de 1950 a 1974.
Diplomacia; China; Brasil; História da Relações Internacionais
Apesar das relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China (RPC) terem sido estabelecidas apenas em 1974, os países compartilharam uma história em comum anterior, ainda pouco explorada pela historiografia brasileira. Durante os anos de 1979 e 1949, o Brasil e a China mantiveram relações diplomáticas oficiais, que foram rompidas antes do desfecho da Guerra Civil Chinesa (1927-37 e de 1945-49), por ocasião da vitória do Partido Comunista da China (PCCh). Durante os 25 anos seguintes, o Brasil e a China permaneceram distantes, em um contexto marcado por profundas transformações internas em ambos os países, em meio à realidade polarizada característica da Guerra Fria. A China, sob liderança comunista, buscava consolidar seu novo modelo político e econômico, bem como tentava alicerçar sua inclusão na comunidade internacional. O Brasil, país detentor de um passado colonial e marcado pela permanência da classe dominante agrária no poder, enfrentava desafios de desenvolvimento e de desigualdade social, tendo se aliado aos Estados Unidos como forma de resolver seus dilemas internos. Nesse ínterim, estas nações enfrentaram inúmeros desafios para aprofundar seus laços, que não se concretizaram sobretudo devido à resistência das classes dominantes brasileiras para aceitar os chineses como parceiros. O anticomunismo é o elemento mais elencado como sendo o fator fundamental para justificar esse afastamento. Esta tese busca demonstrar que ele não foi o único fator. Consideramos que a construção histórica de uma imagem racista e pejorativa dos chineses foi determinante para criar, na mentalidade dos brasileiros, a ideia de que havia, do outro lado do mundo, um povo cruel, despótico e, acima de tudo, inimigo. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é destrinchar, por meio da análise das relações históricas entre os dois povos, como os preconceitos contra os chineses contribuíram com o distanciamento entre as duas nações. Para tanto, realizaremos uma análise de documentos diplomáticos pertencentes ao Arquivo Histórico do Itamaraty (RJ), além dos acervos do Arquivo Nacional (RJ e DF), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da ONU, bem como de outros fundos documentais.