O governo da sociedade através da neutralização do conflito político.
Como a subjetividade antagonista produziu os dispositivos de poder neoliberais.
governamentalidade neoliberal; dispositivo; subjetividade antagonista; conflito político.
Nas últimas décadas, o campo das Ciências Humanas tem assistido a uma intensificação dos debates em torno das formas contemporâneas de governo e exercício do poder, sobretudo no que se refere aos processos de subjetivação e de intervenção sobre a vida. No centro dessas discussões, emergem os conceitos de biopolítica e governamentalidade neoliberal, retomados por diversos autores como uma tentativa de repensar a relação entre bios e poder, à luz das transformações estruturais e subjetivas que se desenrolaram a partir das décadas de 1960-1970 até hoje. Dentro deste campo de investigação destacamos a análise do funcionamento concreto do poder, através do auxílio do conceito operacional de dispositivo de poder para compreender, de um lado, a produção de uma subjetividade que é moldada pelos e reproduz os imperativos éticos dominantes, de outro, a resistência a esses dispositivos, enquanto processo de formação de sujeitos coletivos antagonistas. Afinal, este trabalho tenta percorrer caminhos teóricos pouco batidos onde é possível encontrar elementos que indicam que é a reação do poder aos movimentos de luta e resistência que produz os dispositivos que constantemente se aperfeiçoam e se atualizam em cima das transformações dos sujeitos antagonistas, cujas implicações repercutem nas formas como se compreendem os conflitos sociais, as lutas por reconhecimento e os modos de subjetivação política na contemporaneidade. Este trabalho tem como objetivo analisar criticamente a genealogia da governamentalidade, sociedade e subjetividade neoliberal, com ênfase no funcionamento dos dispositivos de neutralização do conflito político e do sujeito antagonista, a partir, principalmente, das contribuições de Foucault, Laval e Dardot, Chamayou, Lazzarato, Negri e Esposito. O que pretende-se realizar é uma ontologia do presente, traçando caminhos a partir da problematização do visível processo de despolitização da sociedade, entendida como o esgotamento das alternativas políticas em relação à governamentalidade neoliberal e a neutralização do conflito político, que tem como objetivo estratégico eliminar, a partir do âmago da formação dos sujeitos, potenciais mudanças sistêmicas e favorecer, portanto, a manutenção e fortalecimento da organização politica, social e econômica vigente.