PASSADO E PRESENTE NA REPRESENTAÇÃO DO PRETO NO FILME NORDESTINO CONTEMPORÂNEO
Negro; Cinema; Nordeste; Representação.
O trabalho tem por finalidade analisar a representação do preto e do passado colonial escravista nos filmes O som ao redor (2013), de Kleber Mendonça Filho, O nó do diabo (2018), de Gabriel Martins, Ian Abé, Jhésus Tribuzi e Ramon Porto Mota e Propriedade (2023), de Daniel Bandeira. A narrativa da modernidade sobre o indivíduo preto está historicamente permeada por um conjunto de discursos que, por diferentes vias, o aprisionam no passado escravista (MBEMBE, 2014). Este fato pode ser amplamente notado na produção intelectual sobre o negro no país, sobretudo quando se observam as abordagens sobre a vivência do negro no contexto do Nordeste. No Brasil, a produção intelectual que despontou a partir do final do século XIX apontou o negro como biológica e culturalmente limitador do progresso almejado pela nação. Teorias pseudocientíficas determinaram a influência do africano na composição social brasileira como agravadora da inferioridade étnica observada no país. As teses sobre a degeneração irremediável do brasileiro afrodescendente ganham outros contornos ao longo do século XX, chegando à década de 1930 com a exaltação à miscigenação. Neste período, percebe-se a existência de uma divisão racial do território brasileiro (GONZALEZ, 2020), que revela experiências distintas da vivência dos negros em diferentes regiões do país. Apontando para onipresença do passado colonial na sociabilidade contemporânea observada a partir do Nordeste, as obras reiteram a permanência de práticas advindas do mundo escravista indicando a não superação das disparidades raciais gestadas desde a formação do país. Nos filmes, o preto apresenta-se ainda associado ao passado escravista, mas esta associação está atravessada por conflitos e tensões reveladoras da dinâmica da colonialidade nas relações contemporâneas. A estética do cinema de horror é potencializadora da abordagem histórica presente nos filmes. As obras indicam os conflitos do passado que atravessam o presente na medida em que antigas práticas da sociedade colonial continuam a atuar. A análise desta representação possibilitará a construção de um trabalho que apreenda a tensão da perpetuação da dinâmica violenta do passado escravista agindo ainda na contemporaneidade.