História Cultural. Ensino de História. Ambiente. Alimentação. Cura. Bioma Caatinga. Semiárido.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar as memórias da comunidade escolar (estudantes, professores, diretores, pais, mães, avós etc.) da rede municipal de ensino de Boqueirão-PB sobre as práticas ambientais, alimentares e medicinais provenientes do uso dos cactos e das bromélias no campo de investigação do ensino de história. Problematizamos como essas práticas fizeram parte das experiências desses sujeitos e como a escola, por meio do ensino de história, pode contribuir para a formação da Consciência Histórica (Rüsen, 2006; 2012; 2015) sobre o Semiárido brasileiro. Este trabalho argumenta que o estudo dessas memórias colabora para a segurança e a diversidade alimentar de forma sustentável, contribui para a compreensão dos usos das propriedades medicinais das plantas da Caatinga e combate as mudanças climáticas. Além disso, desnaturaliza no ambiente escolar, pelo ensino de história, o discurso que associa as práticas de uso dos cactos e das bromélias à fome, à miséria, à pobreza e ao exótico (Silva, 2008, 2019, 2020; 2021; Silva e Oliveira, 2022, 2023). Para termos acesso a essas memórias (Candau, 2019, Nora, 1996), usamos a História Oral (Alberti, 2004; 2019) e como metodologia, utilizamos a cartografia sentimental (Rolnik, 2016; Guatarri e Rolnik, 1996) para ler os documentos. Pautados em Certeau (1982; 2019; 2023), construímos uma história do cotidiano, dando destaque às sensibilidades (Pesavento, 2007; 2008) e aos afetos (Espinosa, 2009) presentes nas experiências (Larrosa, 2019) ambientais, alimentares e medicinais da comunidade escolar boqueirãoense sobre os usos dos cactos e das bromélias. Ao término das análises, constatamos que essas práticas, além de problematizarem o sistema atual de produção de alimentos (devastação ambiental, agrotóxico, fertilizante, conservante, hormônio entre outros), podem ser uma alternativa para a diversidade e para a segurança alimentar de forma saudável e servir como aporte para futuras pesquisas, principalmente na área das Ciências Humanas, em especial, no campo da história das práticas de cura. Portanto, o estudo cultural e histórico das memórias sobre o bioma Caatinga, especificamente sobre o uso dos cactos e das bromélias no ensino de história no ambiente escolar (por meio de entrevista, receitas, cartazes, poesias, palestras, história em quadrinhos, contação de história, oficinas e aula de campo), leva o estudante a formar a sua consciência histórica sobre o Semiárido e consequentemente a amenizar os problemas socioambientais (efeito estufa, desmatamento, queimadas, enchentes, fome, doenças etc.) que prejudicam a natureza e a humanidade na contemporaneidade.