ENTRE CAMINHOS E CORRESPONSABILIDADES: ecologias atencionais na relação pai, criança e mundos
Palavras-chave: Atenção, Paternidade, Infância, Cartografia, Ecologia da Atenção.
A paternidade hegemônica, tal como concebida na modernidade ocidental e sustentada pelo
sistema patriarcal, naturalizou práticas de autoridade, distanciamento afetivo e normatização da
infância. Desnaturalizar essa configuração pode ser uma via para abrir espaço a outras formas
de cuidado e corresponsabilidade. Esta pesquisa nasceu da experiência vivida pelo pesquisador
com seu filho na primeira infância, confinados durante a pandemia, a partir da qual se delineou
toda a construção teórico-metodológica do estudo. Investigou-se, assim, os gestos atencionais
que emergem na relação entre pais, crianças em primeira infância e mundos, examinando como
podem compor ecologias atencionais capazes de cultivar outros modos de parentar. De natureza
idiográfica, qualitativa e cartográfica (Passos; Kastrup; Escóssia, 2015), a investigação
combinou estudo teórico e trabalho de campo, articulando dois dispositivos: entrevistas com
cinco pais homens cis e um conjunto de sete caminhadas ao ar livre, realizadas separadamente
com duas crianças em companhia de seu respectivo pai e do pesquisador. Cada criança definiu
percursos e ritmos, que se configuraram como laboratórios estéticos atencionais (Citton, 2017;
Kastrup & Caliman, 2025). As entrevistas ocorreram em formato híbrido (presencial e remoto),
enquanto as caminhadas se desenrolaram na Região Metropolitana do Recife. O referencial
teórico mobilizou a ecologia da atenção (Citton, 2017) e os estudos atencionais de William
James, Daniel Stern, Virgínia Kastrup, Luciana Caliman, Cristiane Bremenkamp Cruz e outros,
em articulação com a perspectiva do caminhar no modo labirinto (Ingold, 2015). Somaram-se
ainda os estudos sobre infância de Donald Winnicott, Walter Kohan, Renato Noguera e outros,
em diálogo com contribuições interseccionais sobre gênero e cuidado como Valeska Zanello,
Silvia Federici, bell hooks, Donna Haraway. A análise foi conduzida a partir de uma matriz
cartográfica que organizava as cenas em campos de descrição, gestos atencionais percebidos,
notas interpretativas, pistas para análise cartográfica e rascunhos analíticos. Esse processo
permitiu acompanhar a emergência dos gestos em sua singularidade e, ao mesmo tempo,
articular transversalmente os achados por meio da construção de zonas de intensidade. As pistas
encontradas sugerem que a atenção, quando vivida como gesto partilhado, pode operar como
prática de cuidado relacional e como possibilidade de deslocamento frente às normatividades
que restringem infância e paternidade. Em oposição à economia da atenção, que não captura
apenas o olhar, mas sequestra os sentidos, o tempo vivido e as próprias subjetividades,
convertendo-os em recurso e mercadoria, a ecologia da atenção afirma a atenção como vínculo
vivo, gesto de cuidado e prática insurgente de abertura.