O DESENVOLVIMENTO DO JOGO DIGITAL LUKA E A SUA INFLUÊNCIA NA PROMOÇÃO DO DISCURSO NÃO POLARIZADO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL
Argumentação; Polarização do discurso; Jogos Digitais; Jogos na Educação.
Tornar a escola mais “atraente”, aumentando o engajamento e o interesse dos estudantes pela experiência escolar tem sido um desafio constante de educadores e instituições educacionais. Alguns documentos que refletem sobre a educação básica no Brasil, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o relatório “Políticas Públicas para Redução do Abandono e Evasão Escolar de Jovens” trazem que, além de aumentar o engajamento dos estudantes, outro importante problema educacional refere-se à necessidade de desenvolver o pensamento crítico dos estudantes, evitando a polarização do discurso (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2017;
BRASIL, 2019). Os estudos de Budesheim e Lundquist (2000), De Conti (2013), Correia (2014) e Ramírez (2018), apontam o desenho de atividades argumentativas como via para a promoção do discurso não polarizado através de estratégias anti-vieses, como o exame crítico de posições divergentes e a não escolha da posição a ser defendida, dentre outras. As revisões de estudos promovidas por Lee e Hammer (2011) e Meira e Blikenstein (2019) apontam que o uso de jogos e/ou de mecânicas de jogos (gamificação) podem potencializar o empenho de estudantes em atividades de aprendizagem. Considerando esses dois pressupostos, a presente pesquisa foi dividida em dois estudos; no estudo 1 foi desenvolvido o jogo Luka, um game digital que se utiliza de estratégias antivieses e de elementos argumentativos, com o objetivo de fomentar a promoção do discurso não polarizado em estudantes do ensino fundamental. O jogo Luka aborda uma controvérsia específica de um dos tópicos curriculares da disciplina de Geografia do Ensino Fundamental Brasileiro (processos imigratórios). Essas controvérsias são abordadas ao longo do jogo através de suas três mecânicas, inspiradas em estratégias
antivieses: a Coleta de Tábulas do Tempo, o Quadro de Argumentos e os Debates. O estudo 2 teve o objetivo de analisar a incorporação de elementos do jogo Luka no favorecimento do discurso não polarizado por parte de estudantes do ensino fundamental participantes de um debate não-estruturado no WhatsApp. Esse segundo estudo, de natureza qualitativa, foi desenvolvido com base em uma série de estudos de casos de oito estudantes e um docente de uma turma do oitavo ano do ensino fundamental de uma escola privada do Recife (Pernambuco) que participaram de um debate não-estruturado no WhatsApp e de uma prova individual. A análise foi dividida em três partes: microanálise do debate, microanálise das provas individuais dos estudantes e macroanálise do debate. Essas três partes tiveram os objetivos de (1) analisar se o conteúdo do jogos são replicados ou adaptados pelos participantes; (2) identificar o nível de compromisso dos alunos participantes com os seus
pontos de vista (baixo compromisso/alto compromisso); (3) analisar se as intervenções do professor, relacionadas ao tema da controvérsia e ao jogo, conseguem iniciar ou manter a atividade argumentativa dos aluno e (4) identificar se há elementos discursivos dos estudantes que buscam refletir sobre a cogência dos argumentos (solidez dos argumentos) dos seus pares (GOVIER, 2010). A partir disso, na análise discursiva dos participantes, notou-se que os conteúdos do jogo, como informações, argumentos e contra-argumentos, foram utilizados e adaptados de maneira consistente pelos estudantes ao longo do debate e, também, nas
questões da prova individual. Além disso, outra característica discursiva consistente ao longo do debate foi o baixo compromisso dos estudantes com seus pontos de vista, indicando uma baixa polarização do discurso em relação à temática debatida. Apesar de não ter emergido de forma tão consistente quanto os elementos discursivos anteriores, dois estudantes apresentaram apontamentos diretos sobre a cogência dos argumentos de seus pares. Com relação ao docente, ao longo do debate, ele desenvolveu ações discursivas (pragmáticas e
argumentativas) que iniciaram e mantiveram o processo argumentativo dos estudantes (DE CHIARO & LEITÃO, 2005). Além da própria mediação, o professor, de forma autônoma, também construiu perguntas que direcionaram ações argumentativas dos estudantes na prova.