Distribuição e composição de Appendicularia no Atlântico tropical (ambientes nerítico e oceânico) e relações com o ciclo do carbono.
Urochordata; Larvacea; Levantamento bibliográfico; Atlântico sudoeste; Ciclagem ecossistêmica.
Appendicularia são tunicados planctônicos que constroem inúmeras casas gelatinosas todos os dias, sendo uma importante fonte de alimento e transporte vertical de carbono em ambientes pelágicos. No entanto, são organismos pouco conhecidos e estudados no Oceano Atlântico. Este estudo teve como objetivo fornecer uma visão geral do estado da pesquisa da classe Appendicularia no sudoeste do Atlântico, além de avaliar a distribuição e composição de apendiculários no Atlântico Sul, inferindo o papel trófico desses organismos por meio da relação dos teores de carbono encontrados e variáveis ambientais. Para o levantamento bibliográfico revisamos o estado da arte do conhecimento deste grupo em plataformas acadêmicas, selecionando 83 publicações. As coletas biológicas foram realizadas em nove pontos no Recife e sete na ilha principal do Arquipélago de Fernando de Noronha, por meio de arrastos horizontais a superfície com redes de malhas variadas. Os resultados encontrados no levantamento bibliográfico mostraram que apenas 13,3% corresponderam a estudos focados em Appendicularia, e a grande maioria dos trabalhos se referiu ao zooplâncton. Foram encontradas 34 espécies registradas nas ecorregiões brasileiras, predominando: Oikopleura dioica, Oikopleura fusiformis, Oikopleura longicauda e Oikopleura rufescens. Não foram encontrados grupos de especialistas no Brasil, enquanto a Argentina possui um forte grupo de pesquisa para o Atlântico Sudoeste, desenvolvendo pesquisas em ecologia, estrutura trófica, taxonomia e outras áreas. Para os dados amostrados em Recife e Fernando de Noronha as espécies da família Oikopleuridae foram mais abundantes nas duas áreas, e Fritillaria não teve representantes em Recife. Quanto aos parâmetros abióticos, Fernando de Noronha registrou menores valores de temperatura, clorofila – a e precipitação. A nMDS mostrou que muitas espécies apresentam distribuição sobreposta, e que algumas tem preferências por área e sazonalidade específicas. Quanto a contribuição de biomassa de carbono, não houve diferença estatística entre áreas. As espécies que tiveram maior contribuição de produção secundária foram O. dioca e O. longicauda, corroborando com os dados da literatura que mostram que além de copépodes, os appendiculários são importantes indicadores de processos ambientais e eventos climáticos. Os índices de diversidade e equitabilidade mostraram que poucas espécies dominam numericamente os ambientes e muitas espécies são encontradas em menor abundância. No geral, os Oikopleuridae foram mais abundantes e com maior frequência do que os Fritillaridae, um padrão esperado para esses organismos, uma vez que as espécies de Oikopleuridae preferem águas mais quentes, e Fritillaridae tem
preferência por locais de temperaturas mais frias. Acreditamos que um conjunto de fatores abióticos e possíveis influências de eventos climáticos atuaram sobre a biodiversidade da área, resultando em valores baixos na estação costeira e valores altos em direção à estação oceânica. É conhecido que espécies neríticas não costumam derivar para a regiões oceânicas devido às condições hidrográficas da região costeira. Entretanto, podem ser encontradas em águas oceânicas vizinhas, porém não conseguindo sobreviver em condições oceânicas. Em contrapartida, as espécies oceânicas apresentam fluxos regulares para ambientes costeiros. A baixa diversidade na área costeira parece estar associada à instabilidade ambiental, resultante das variações físico-químicas associadas aos múltiplos usos indiscriminados dessas áreas. Diante do exposto, foi possível verificar que são necessários incentivos financeiros para as Norte e Nordeste do Brasil, além de melhor gestão dos dados coletados, possibilitando pesquisas futuras e a formação de pesquisadores especialistas nessa área. As estimativas de biomassa e produtividade demonstraram a importância das espécies O. dioica e O. longicauda como produtores secundários para os ambientes costeiro e oceânico. Entretanto, considerando a escassa informação disponível, são necessários mais estudos a fim de avaliar a trofodinâmica geral desses organismos, particularmente a influência como produtores secundários em ecossistemas pelágicos neste cenário de mudanças climáticas.