Microplásticos e peixes-lanterna de uma bacia ocidental do Atlântico Sul: biodisponibilidade e ingestão em larvas
Poluição marinha; Microparticulas plásticas; Ecossistema marinho; Organismos planctônicos; Larvas de Mictofídeos
A poluição por microplásticos (MP) nos oceanos é um problema crescente, impulsionado pelo aumento exponencial da produção de plásticos e pelo descarte inadequado de resíduos sólidos. Essas partículas, devido ao seu tamanho e aparência, podem ser ingeridas por plâncton e outros pequenos organismos, como larvas de peixes. A bacia de Sergipe-Alagoas (SEAL), uma região de alta biodiversidade e produtividade planctônica, está sob risco crescente de poluição por MP devido a atividades humanas, como urbanização, turismo e empreendimentos, além da influência de rios fortemente urbanizados, como o rio São Francisco e o rio Sergipe. Os MP estão entrando na cadeia alimentar local, um único registro foi feito em amostras de fitoplâncton. Este estudo tem como objetivo investigar a poluição por MP na bacia SEAL, analisando sua variação sazonal e espacial, além da disponibilidade para larvas de peixes da família Myctophidae. As amostragens ocorreram durante os períodos chuvoso e seco de 2014 a bordo do Navio Seward Johnson, no âmbito do Projeto MARSEAL. Foram coletadas amostras em dois transectos (A – sob influência do rio São Francico e B – sob influência do rio Sergipe) com quatro estações: 25 (região costeira), 400 (quebra da plataforma), 1000 e 1900 metros (áreas oceânicas). As coletas ocorreram na superfície e no Ponto Máximo de Clorofila (PMC – 60 a 120 m), exceto na estação de 25 metros, somente a superfície foi amostrada. Foram registradas 565 larvas, sendo 430 no período chuvoso e 135 no seco. O gênero mais abundante foi Diaphus spp. Durante o período chuvoso, as larvas se concentraram mais próximo à superfície, especialmente na região costeira, sob a influência do Rio São Francisco. No período seco, as larvas se dispersaram em áreas mais profundas, com maior abundância no PMC em áreas oceânicas. Um total de 823 partículas de MP foram registrado, 574 partículas no período seco e 277 no período chuvoso. Todas essas partículas foram validado através de digestão alcalina-oxidativa e microscopia Raman. Os tipos mais encontrados foram fibras translúcidas de PET (16,8%) e fragmentos de PA (10%). A maior abundância de MPs ocorreu na superfície das regiões costeiras e na quebra da plataforma continental durante o período seco. Em áreas oceânicas, os MPs foram encontrados com maior abundância no PMC. A maior biodisponibilidade de MP para as larvas a MPs ocorreu durante o período seco, na superfície em região costeira e PMC em regiões oceânicas. Com base no tamanho da abertura máxima da boca, as fibras foram identificadas como os MP com maior probabilidade de serem ingeridos pelas larvas. A maior quantidade de larvas no período chuvoso pode estar ligada ao aumento da oferta de nutrientes transportados pelos rios, como o Rio São Francisco, o que favorece o desenvolvimento larval. Neste período, a Corrente Norte do Brasil (CNB) influencia o continente, podendo favorecer a retenção das larvas na costa. Por outro lado, a maior abundância de MP no período seco pode ser atribuída à menor diluição, devido à redução no fluxo hidrológico oriundo do continente Além disso, CNB durante este período se expande, tornando-se uma corrente de contorno mais larga e profunda, o que pode favorecer o transporte de MP vindos de regiões ao norte ou do próprio Oceano Atlântico, concentrando esses poluentes na costa do nordeste brasileiro ou plásticos maiores que exposto a fatores de intemperismos ocorrendo à fragmentação em MP. Em termos de biodisponibilidade, os MPs, especialmente fibras, podem ser facilmente ingeridos pelas larvas devido à semelhança com seu alimento natural. Isso representa uma ameaça direta ao desenvolvimento desses organismos, uma vez que a ingestão de MPs pode afetar sua alimentação, crescimento e sobrevivência. A poluição por MP na bacia SEAL representa uma ameaça crescente para a biodiversidade marinha, especialmente para as larvas de Myctophidae. A maior presença de MPs no período seco e em regiões costeiras podem estar ocorrendo pela influência das variações sazonais e correntes oceânicas na distribuição desses poluentes. As larvas, especialmente na superfície e no PMC, estão vulneráveis à ingestão de MPs, o que reforça a necessidade de políticas de controle da poluição e preservação dos ecossistemas marinhos nesta região.