ABORDAGENS ANALITICAS E COMPUTACIONAIS NO ESTUDO DA RELACAO ENTRE FLAVONOIDES E POTENCIAL ANTIFUNGICO DE ESPECIES TRADICIONAIS DE MYRTACEAE DO NORDESTE BRASILEIRO
Pitanga. Goiaba. Jaboticaba. Araçá. Uvaia. Cagaita.
A família Myrtaceae representa uma das mais importantes famílias botânicas no contexto
mundial, com especial relevância para o Brasil, que detém a segunda maior diversidade de
espécies desta família e se destaca como o país com a maior variedade de espécies frutíferas do
grupo. No Nordeste brasileiro, diversas espécies de Myrtaceae são amplamente utilizadas na
medicina tradicional e suas propriedades terapêuticas estão relacionadas a constituição rica em
metabólitos secudários. Neste sentido, este estudo investigou a relação entre o perfil de
flavonoides e a atividade antifúngica de espécies nordestinas, combinando análises fitoquímicas
e testes in vitro e in silico. Foram selecionadas espécies dos gêneros Eugenia, Psidium, Plinia e
Syzygium com base em registros do Flora do Brasil, SpeciesLink e evidências científicas. 12
espécies foram coletadas, identificadas e cadastradas no Sisgen (A74AD6E). Suas folhas foram
estabilizadas, trituradas e os extratos foram obtidos por turbo-extração e secos por liofilização.
Os extratos foram analisados por Cromatografia em Camada Delgada de Alta Eficiência
(CCDAE) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Espectrometria de Massas
(LC/MS). As atividades in vitro foram conduzidas com cepas de Candida spp para obtenção da
Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Fungicida Mínima (CFM). Os
flavonoides das espécies incluídas no estudo foram coletados no SciFinder e avaliados frente a
lanosterol 14α-desmetilase (3LD6), esqualeno epoxidase (6C6N) e β-glucana sintetase (8JZN),
coletadas no Protein Data Bank (PDB), preparadas e avaliadas in silico por meio do AutoDock.
Bandas amarelas alaranjadas foram observadas na CCDAE, característico dos flavonoides. As
análises de LC-ESI-MS, revelou a predominância de miricitrina, derivados da quercetina e do
ácido elágico nos extratos avaliados. Em ordem, os extratos de Eugenia uniflora, Plinia
peruviana e Psidium cattleyanum, todos contendo miricitrina, apresentaram as melhores
respostas fungicidas e fungistáticas, com CIM entre 65,2 a 250 μg/mL contra C. glabrata, C.
parapsilosis e C. auris, e 500 μg/mL contra C. albicans. Os extratos de P. guajava e P.
guianeense tiveram menor eficácia com CIM ≥500 μg/mL. Nos estudos in silico, a miricitrina (-
9,7 kcal/mol) e epigalocatequina (-9,0 kcal/mol) apresentaram afinidade comparável ao
cetoconazol frente a 3LD6, com interações-chave nos resíduos PHE234, TYR145, ILE488,
HIS314, LEU134 e HEM601 do sítio ativo. Derivados de quercetina mostraram menor
eficiência, possivelmente devido a efeitos estereoquímicos da glicosilação. A presença de grupos
hidroxila livres potencializa a interação com alvos enzimáticos. Na 6C6N, somente a
Epigalocatequina demonstrou sobreposição e interação em comum com a Terbinafina e em
8JZN, nenhum dos flavonoides avaliados apresentou interações em comum com o fármaco
Caspofungina. A presença e concentração da miricitrina nos extratos influenciaram as repostas
antifúngicas in vitro, os achados in silico demonstram que a inibição enzimática na via da síntese
do ergosterol, pode ser um dos mecanismos envolvidos na capacidade fungicida e fungistática
dos flavonoides avaliadas. Os achados contribuem para o esclarecimento das relações entre
constituição e atividade biológica de extratos e fornece informações valiosas para a
bioprospecção de novos agentes terapêuticos com potencial promissor no desenvolvimento de
fitoterápicos.