AVALIAÇÃO DE MARCADORES DE EXAUSTÃO CELULAR EM LINFÓCITOS T NA LEISHMANIOSE CUTÂNEA
Receptores co-inibitórios; Linfócitos T; Citometria de fluxo; Resposta imune; Leishmaniose cutânea.
A leishmaniose cutânea (LC) é uma doença negligenciada que afeta milhares de pessoas globalmente, com repercussões significativas no campo econômico e psicossocial. Uma imunidade protetora contra a Leishmania envolve ativação e expansão de clones de linfócitos T CD4+ que reconhecem epítopos do parasita e produzem citocinas do perfil Th1. Em contrapartida, a ativação do sistema imunológico também induz a expressão de moléculas co-inibitórias em linfócitos e células apresentadoras de antígeno que podem caracterizar o fenótipo de exaustão, no qual as células T apresentam um estado disfuncional e redução da capacidade proliferativa e efetora. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar marcadores de exaustão celular em linfócitos T na leishmaniose cutânea. Fizeram parte do estudo 49 pacientes, divididos em grupos com a LC ativa antes do tratamento e pós-tratamento. Além disso, também participaram do estudo 33 indivíduos controles. Foram realizados ensaios de imunofenotipagem, dosagem de citocinas e análise de expressão gênica. Os resultados da imunofenotipagem dos pacientes com LC ativa mostraram elevada expressão de receptores de exaustão em células T CD4conv, como PD-1 e TIGIT, sugerindo um estado de exaustão que compromete a eliminação do parasita e, consequentemente, resolução da doença. Em contraste, as células T CD8+ no grupo pós-tratamento, com a expressão elevada de receptores como 2B4 e CD160, sugerem uma recuperação de sistema imune e restabelecimento da homeostase, enquanto no grupo antes do tratamento observou-se alta expressão de Granzima B, o que pode estar contribuindo para a formação das lesões. As células T reguladoras exibiram alterações, apresentando aumento de TIGIT e diminuição de TIM-3 no grupo antes do tratamento, um perfil que aponta para um perfil imunológico desequilibrado. Já as células T duplo-negativas mostraram o aumento de CD160, principalmente no grupo pós-tratamento, sugerindo a tentativa de restabelecer a homeostase. Os ensaios de citocina revelaram uma resposta inflamatória robusta, com elevação de TNF, IL-6, IL-10 e IL-1β em amostras estimuladas com antígeno de Leishmania que podem estar contribuindo para o estado de exaustão celular na fase ativa da doença. A análise transcriptômica corroborou os achados imunofenotípicos, demonstrando a sobre-expressão de genes relacionados à exaustão, como PDCD1, TIGIT e TOX, em lesão de pacientes com LC. Em conjunto, nossos dados sugerem que a LC ativa pode apresentar um estado imunológico desregulado e exausto, contribuindo para a persistência do parasita e cronicidade da doença. Estudos como este auxiliam aidentificar potenciais alvos terapêuticos para intervenções imunorreguladoras que visem reverter a exaustão de células T e contribuir na eliminação do parasita de forma eficaz, minimizando os danos teciduais.