AVALIAÇÃO DE DISFUNÇÃO RENAL EM PACIENTES COM CHIKUNGUNYA
Marcadores renais; rim; fisiopatologia; Chikungunya.
O vírus Chikungunya (CHIKV) representa um desafio significativo para a saúde pública, devido à sua capacidade de causar uma doença aguda e limitante, cujos principais sintomas incluem
febre, erupção cutânea, mialgia, cefaleia e principalmente artralgia debilitante. Além destas manifestações clínicas típicas, ocorrem manifestações atípicas que incluem o comprometimento das
funções renais, com uma incidência variável entre 0,6% a 79% dos pacientes. Estas disfunções podem agravar o quadro clínico dos indivíduos, conferindo um pior prognóstico. Diante disso, este
trabalho tem como objetivo investigar o impacto da infecção por Chikungunya na função renal, utilizando biomarcadores específicos para monitorar possíveis alterações nas fases aguda e
subaguda. Foram coletadas amostras de soro e urina de 65 indivíduos diagnosticados para Chikungunya durante a fase aguda, atendidos no Setor de Reumatologia do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE). Os indivíduos foram agrupados em 3 grupos: Pacientes sem comorbidades (n=42), pacientes com comorbidades (n=19) e pacientes com
doença renal crônica prévia (n=4). A avaliação da carga viral urinária por RT-qPCR foi realizada apenas em 12 indivíduos do grupo sem comorbidades. Avaliação do sedimento urinário,
avaliação química e física pela tira reagente, dosagem dos níveis séricos de Ureia, Creatinina, Osteopontina, Uromodulina, Igfbp7, tff3, Cistatina C, Ngal e Timp2 e a taxa de filtração glomerular
foram realizadas em todos os participantes. As análises estatísticas foram realizadas através dos softwares GraphPad Prism (versão 9.0) e IBM® SPSS® Statistics, com significância considerada
quando o valor de p < 0,05. A média de idade dos pacientes foi de 48 anos (DP = 14,6 com idades variando entre 19 e 79 anos, os quais 47 participantes (72%) são representantes do sexo
feminino e 18 (27%), são representantes do sexo masculino. A carga viral urinária foi detectada em apenas 1 de 12 amostras avaliadas (CT~39). D Na fase aguda, entre os 42 participantes sem
comorbidades de risco renal, o pH urinário variou de 6,0 a 7,0, sem detecção de urobilinogênio, glicose ou outras alterações relevantes. Proteinúria foi observada em 4,76% dos casos. Na fase
subaguda, a única alteração foi proteinúria em 2,38%. No grupo com comorbidades renais (n=19), o pH variou de 6,5 a 7,0, com proteinúria em 10,53%, sem outras alterações. No grupo com
doença renal crônica, o pH urinário foi de 6,5 a 7,0, e 50% apresentaram proteinúria e albuminuria, principais achados desse grupo. Nenhum dos parâmetros foi confirmado após análise na
sedimentoscopia. A creatinina aumentou significativamente na fase subaguda em todos os grupos, tanto em homens quanto em mulheres. Nos homens sem comorbidades renais (n=14), a
mediana passou de 0,59 mg/dL para 0,65 mg/dL (p=0,0433), e nas mulheres (n=28), de 0,50 mg/dL para 0,64 mg/dL (p=0,0004). Nos demais grupos, a creatinina também se elevou, com maior
variação no grupo com doença renal crônica (homens: 0,72 - 1,47 mg/dL; mulheres: 0,59 - 0,85 mg/dL). Os níveis de ureia permaneceram dentro da faixa normal (10-50 mg/dL) em todas as
fases e grupos, sem diferenças estatisticamente significativas. Entre os demais biomarcadores analisados, apenas o Igfbp7 apresentou diferença estatisticamente significativa entre a fase aguda e
subaguda nos valores de MFI. As alterações observadas sugerem que pacientes com DRC prévia apresentam maior susceptibilidade a alterações renais durante a infecção por CHIKV, destacando
a importância do monitoramento renal nesses indivíduos. A presença de comorbidades, como diabetes e hipertensão, não resultou em alterações significativas nos biomarcadores renais,
sugerindo que o impacto renal pode depender mais da resposta inflamatória do que das comorbidades isoladas.