DESENVOLVIMENTO, CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DE PERFORMANCE DE SISTEMAS AUTOEMULSIFICANTES CONTENDO CLOFAZIMINA
Clofazimina; SEDDS; sistemas autoemulsificantes; solubilidade; perfil de dissolução.
A hanseníase continua sendo um grande desafio para a saúde pública, principalmente devido à
limitada biodisponibilidade da clofazimina (CLZ) e à necessidade de novas estratégias de
liberação. Neste estudo, sistemas autoemulsificantes de liberação de fármacos (SEDDS) foram
desenvolvidos e caracterizados para melhorar a solubilidade e a performance de dissolução da
CLZ. A formulação otimizada (F1i), composta por 15% de óleo de rícino, 15% de Plurol Oleique
CC 497 e 70% de Polissorbato 80, apresentou um tamanho médio de gotícula de 258,3 ± 3,2 nm e
um índice de polidispersão (PDI) de 0,147, indicando uma dispersão homogênea e estável. A
solubilidade da CLZ contida no SEDDS e no Lamprene® foi realizada em diferentes meios,
mostrando que a formulação SEDDS garantiu uma solubilização maior do fármaco. Em pH 1,2, a
solubilidade da CLZ nos SEDDS foi 3,62 ± 0,39 μg/mL, enquanto no Lamprene® foi 0,45 ± 0,09
μg/mL. Em pH 6,8, os valores aumentaram para 35,02 ± 4,07 μg/mL no SEDDS e 3,24 ± 1,80
μg/mL no Lamprene®. Nos meios biorrelevantes, FaSSIF e FeSSIF, a solubilidade foi maior,
atingindo 40,3 ± 1,53 μg/mL e 44,52 ± 0,54 μg/mL, respectivamente, para o SEDDS, enquanto o
Lamprene® apresentou 3,16 ± 0,46 μg/mL e 37,0 ± 2,04 μg/mL, demonstrando que a formulação
SEDDS eliminou a dependência da digestão lipídica para solubilização eficiente. Nos ensaios de
dissolução in vitro, os SEDDS também mostraram um desempenho superior ao Lamprene®, tanto
em tampão pH 1,2 quanto em pH 6,8. No meio ácido, a dissolução do SEDDS foi 9 vezes maior
do que a do Lamprene®, com uma ASC de 16,3 ± 11,3% contra 1,8 ± 0,4%. Já em pH 6,8, o
SEDDS apresentou um aumento de 58 vezes, atingindo uma ASC de 75,2 ± 4,8% comparado aos
1,3 ± 0,4% do Lamprene®. Em meios biorrelevantes, a ASC foi 13 vezes maior no FaSSIF (77,4
± 2% vs. 5,9 ± 0,8% do Lamprene®) e 12% superior no FeSSIF (82,2 ± 2,5% vs. 72,9 ± 4% do
Lamprene®). A caracterização estrutural por FTIR indicou interações intermoleculares entre a
CLZ e os excipientes do SEDDS, como ligações de hidrogênio e interações hidrofóbicas, que
favoreceram a solubilização e estabilidade do sistema. As análises morfológicas por microscopia
de força atômica (AFM) revelaram uma distribuição homogênea das gotículas em pH 6,8,
enquanto em pH 1,2 a estrutura mostrou sinais de menor estabilidade interfacial. A microscopia
de luz polarizada (MLP) confirmou a ausência de cristais após a dispersão, sugerindo que a
estrutura lamelar dos surfactantes se manteve, contribuindo para a solubilização sustentada da
CLZ. Os resultados indicam que os SEDDS desenvolvidos representam uma alternativa
promissora para a formulação oral da CLZ, melhorando a solubilidade e dissolução do fármaco
em diferentes condições fisiológicas e eliminando a necessidade de ingestão concomitante de
alimentos ricos em lipídios para uma absorção eficiente. Estudos futuros devem avaliar a
biodisponibilidade in vivo e a absorção celular para validar a aplicação clínica dos SEDDS no
tratamento da hanseníase.