“Minha vida virou pelo avesso”: a experiência de crise de usuários de Caps III na cidade do Recife
sofrimento psicológico; experiência de vida; serviços de saúde mental; serviços de urgência psiquiátrica.
A experiência de crise é inerente à condição humana e em saúde mental mobiliza intenso sofrimento. Temos respondido a esta situação com exclusão e isolamento (modelo biomédico) ou com respeito e convivência (modelo de atenção psicossocial). Este, influenciado pelo movimento mundial de reforma psiquiátrica, defende a
desinstitucionalização e valoriza a experiência subjetiva das pessoas em sofrimento. A pesquisa buscou compreender a experiência de crise de pessoas que já passaram por internação e/ou urgência psiquiátrica. Com inspiração fenomenológica, a investigação entrevistou cinco usuários de Caps. Após transcrição literal, o material foi analisado pelo método fenomenológico descritivo seguindo os passos: identificação do sentido geral; definição das unidades de significado; transformação das unidades em linguagem psicológica; redação do sentido da experiência de cada participante; redação da estrutura geral das experiências e interlocução com a literatura. Antes da crise, a vida é de autonomia, desempenho das atividades cotidianas, senso de competência e relacionamentos satisfatórios. Episódios de crise envolvem tristeza, medo, vergonha, solidão, além de despersonalização, sintomas psicóticos e comportamentos incontroláveis. A crise é uma ruptura abrupta na vida e mobiliza incompreensão do que se passa consigo mesmo. Envolve reconhecimento da própria condição e processos de superação de estigmatização e preconceito. Apoio social é importante recurso para lidar com a crise. Laços sociais podem ser rompidos e/ou fortalecidos. Em hospitais psiquiátricos, a atenção recebida é desumana e invasiva com presença de sentimento de desrespeito e violação de direitos. A atenção em Caps é acolhedora, respeitosa e com valorização das singularidades. Falar “com” as pessoas que sofrem e não “pelas” pessoas é uma das contribuições da pesquisa. Que pesquisadores e profissionais de saúde valorizem vozes e experiências das pessoas com que trabalham, que convivem com descrédito, desqualificação e exclusão. Nossa pesquisa pretende contribuir para a superação do estigma associado às pessoas em sofrimento psíquico.