Pandemia do Covid-19 e o Padrão de Evolução das Disparidades Regionais de Renda no
Brasil: Evidências a Partir de Diferentes Fontes de Renda
Covid-19, Disparidades Regionais de Renda
De acordo com dados do Center for Systems Science and Engineering (CSSE) da Johns
Hopkins University, o Brasil registrava, no início de janeiro de 2022, 619 mil mortes associada a
pandemia do COVID-19. Para além da tragédia em termos de vidas perdidas, não há dúvida de que
tal pandemia afetou seriamente a economia brasileira, do que são testemunhas a queda do PIB
(Produto Interno Bruto) do país em 4,1% ao longo de 2020 e as previsões de crescimento abaixo de
2% para 2021.
Dada a natureza da pandemia, que evolui a partir principalmente do contato pessoal, e a
significativa diversidade das estruturas regionais de produção regional, não é surpresa que tal
impacto da COVID-19 na economia possa se apresentar com marcados diferenciais de intensidade
entre os estados e cidades brasileiras. Por exemplo, caso atinja mais seriamente os serviços
informais e menos seriamente a indústria e serviços formais, que podem ser mais facilmente
substituídos pelo trabalho na residência (home-office), não seria surpresa se os efeitos da pandemia
contribuíssem para elevar as disparidades regionais de renda no Brasil, uma vez que a
informalidade é relativamente mais importante nos estados e cidades mais pobres. Até agora,
porém, pouco se conhece a respeito dos impactos da COVID-19 sobre as disparidades regionais de
renda no Brasil.
Um tal impacto regressivo, porém, não necessariamente decorre dos efeitos da pandemia.
Note-se, a este respeito, que Ascani et al. (2021) apontaram, para o caso Italiano, a relevância das
estruturas produtivas regionais para o entendimento dos impactos da pandemia. Especificamente,
tais autores mostraram que foram as regiões mais especializada na produção industrial e na
produção para exportação situadas ao norte (portanto mais ricas) aquelas mais severamente
atingidas economicamente pelos efeitos da COVID-19. Também analisando o caso italiano, Cerqua
e Letta (2022) mostraram que, pelo menos em termos de emprego, as regiões mais especializadas
em serviços foram mais afetadas que aquelas especializadas em manufaturas. Explorando a
geografia da COVID-19 para os Estados Unidos, Desmet e Wacziarg (2021) mostraram que foram
sobretudo os centros urbanos com mais pobres e menos escolarizados os mais atingidos pela
COVID-19.
Se pouco é conhecido sobre os impactos econômicos regionais da COVID-19 no mundo,
menos ainda se conhece a respeito da experiência brasileira, marcada por importantes disparidades
espaciais de estrutura produtiva e de bem estar. A este respeito, note-se que, se possivelmente as
regiões e estados mais pobres possam a vir os mais afetados através do efeito da renda do trabalho,
a existência de políticas públicas compensatórias durante a epidemia no Brasil tende, por outro
lado, a favorecer tais regiões. Neste sentido, como mostraram Silveira Neto e Azzoni (2011, 2012),
tais fontes de renda associados a políticas sociais tem contribuído para atenuar as disparidades de
renda entre os estados brasileiros e reforçaram a contribuição da renda do trabalho para redução
desta desigualdade na década que finda em 2010.
Muito pouco, contudo, é conhecido a respeito da dinâmica da desigualdade regional de
renda no período mais recente. A partir de uma perspectiva de evolução das disparidades regionais
de renda, esta pesquisa se propõe a começar preencher esta lacuna, fundamental para o desenho de
políticas de redução dos desníveis espaciais de bem estar no país.
Por fim, é importante mencionar que não foram encontradas evidências relacionadas ao
tema para os países em desenvolvimento, como o Brasil, na atual literatura.