BIODIVERSIDADE DE ESPONJAS DA PLUMA DO RIO AMAZONAS: UMA NOVA FRONTEIRA PARA A TAXONOMIA E BIOGEOGRAFIA
Porifera. Taxonomia. Biogeografia. Norte.
Apesar da espongiofauna brasileira ser composta por 642 espécies válidas, ela ainda é considerada subestimada quando se leva em consideração o baixo esforço amostral e o estágio de desenvolvimento taxonômico de cada região. Mesmo para a Região Nordeste, a mais diversa, o conhecimento é fragmentário com maior número de espécies de esponjas conhecidas para Bahia (95) e Pernambuco (76) enquanto pouco se sabe para o Maranhão (23) e o Piauí (3). Pouco conhecida também é a diversidade da Região Norte com 38 espécies válidas, sendo 17 para o Amapá e 23 para o Pará. A região Norte possui grande importância em relação aos processos biogeográficos que explicam a diversidade de poríferos da costa brasileira. Collette & Rutzler (1977) iniciaram o questionamento sobre a relação entre as espongiofaunas brasileira e caribenha, os autores discutiram sobre uma descontinuidade da fauna marinha, inclusive a espongiofauna, entre Caribe e Brasil causado pelo alto fluxo de água doce proveniente do Amazonas, associado a forte Corrente das Guianas, e consideraram a área como uma barreira para dispersão de espécies. Neste sentido, se torna urgente não só um inventário mais atualizado da espongiofauna, para um melhor entendimento sobre a biodiversidade local, como também uma análise biogeográfica das espongiofaunas caribenhas e brasileiras com o intuito de identificar uma possível atuação da Pluma do Rio Amazonas como barreira de dispersão. O presente estudo conta com 160 espécimes identificados, resultando em 40 descrições de espécies, 1 possível espécie nova e um espécime em gênero. Dentre os resultados, destacamos a descrição de Awhiowhio saci Dias, Kelly & Pinheiro, 2023, primeiro registro do gênero para o Oceano Atlântico. Além disso foram feitos 23 novos registros para o Estado do Maranhão, 6 para o Estado do Pará e 6 para o Estado do Amapá. Nossas análises biogeográficas mostram grupamentos com altos índices de suporte, destacando inicialmente os grupamentos que correspondem a fauna caribenha e brasileira com 98% e 73% de suporte, respectivamente. Adicionalmente, foram observados outros grupamentos que dignos de nota, como por exemplo, o grupamento formado pelos estados que sofrem influência mais direta do Rio Amazonas, Amapá e Pará, com 73% de suporte e, no grupamento caribenho, o grupo formado pelas localidades que estão sob influência direta do Mar do Caribe. Com estes resultados fica evidente que existe uma separação entre as faunas caribenhas e brasileiras, com o grupamento formado por Amapá e Pará sendo um forte indício que o Rio Amazonas seja sim uma variável importante que causa esta separação entre as faunas. Porém, ainda é necessário um aumento no esforço amostral em certos tipos de localidades, nestes e em outros estados, não só para contribuir em futuras análises biogeográficas, mas também para aumentar o conhecimento sobre uma biodiversidade que exibe um potencial enorme e é bastantesubestimada.