Papel da ontogênese na estruturação de sistemas médicos locais
Etnobotânica; Plantas medicinais; Teorias de história de vida.
A construção dos sistemas médicos locais (LMSs) pela espécie humana é um relevante tópico em estudos etnobiológicos. No entanto, apresenta diferentes lacunas de conhecimento, principalmente, sobre nosso entendimento de como o conhecimento sobre plantas medicinais se desenvolve e se diferencia ao longo da vida dos indivíduos. A história de vida humana pode somar novos insights para resolver este quebra-cabeça. Assim, exploramos aportes teóricos da Teoria de História de Vida, Teoria do Capital Incorporado e Hipótese da Avó para entender a importância da história de vida na construção de SMLs em uma comunidade rural de subsistência mista no interior do Piauí, Nordeste do Brasil. Nossos insights evidenciam que a história de vida molda o conhecimento sobre plantas medicinais. Além disso, há um conjunto de plantas + alvos terapêuticos fortemente associado aos estágios reprodutivo e pós-reprodutivo. Por outro lado, o gênero modulado pela história de vida não resultou importante para explicar a composição de plantas medicinais. Apesar disso, apenas as mulheres possuem um conjunto de plantas + alvos terapêuticos fortemente associado a estas. Em outro contexto, a história de vida evidencia que o conhecimento sobre plantas medicinais para tratar doenças infantis é mais apropriado para os estágios reprodutivo e pós-reprodutivo, mas que homens e mulheres não possuem um conhecimento diferenciado. Ainda assim, o número de filhos e netos incrementa o conhecimento sobre plantas medicinais para esta categoria de doenças. Finalmente, o tempo na escola impacta de maneira diferente homens e mulheres, estruturando um trade-off apenas para os homens. Discutimos como esses achados podem contribuir para nosso entendimento da construção de SMLs ao longo da vida dos indivíduos.