Planejamento reprodutivo e mortalidade materna em Pernambuco
Gravidez não planejada; gravidez não desejada; planejamento familiar; mortalidade materna.
A escassez nas políticas de planejamento reprodutivo (PR) e a dificuldade de acesso a informações sobre saúde contribuem significativamente para o aumento das gestações não planejadas, que, por sua vez, elevam os riscos associados à gravidez, parto e puerpério, contribuindo para o aumento no número da Mortes Maternas (MM). Essas mortes são evitáveis em mais de 90% e devem ser interpretadas como um dado sensível da qualidade da assistência das pessoas em idade fértil, apontando iniquidades sociais e econômicas. Reduzi-las constitui um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Esse estudo pretende analisar, entre as mulheres que morreram por causas maternas, quais são as diferenças entre ter ou não acesso e assistência ao PR. Trata-se de um estudo transversal que analisou os óbitos maternos nos quais se observaram falhas no PR, de mulheres residentes no estado de Pernambuco, nos anos 2017 a 2022, descrevendo o perfil sociodemográfico, obstétrico e as características dos óbitos, além de identificar e descrever os óbitos maternos com falhas no planejamento reprodutivo, analisando os fatores associados a eles. Foram identificados 564 óbitos investigados, sendo 292 (51,8%) com falhas, 165 (29,3%) sem falhas e 107 (18,9%) inconclusivos ou ignorados. A população se caracterizou majoritariamente por mulheres de 30-39 anos, pardas, solteiras, com 8-11 anos de escolaridade, residentes da primeira macrorregião de saúde. Ao avaliar as frequências e razões de prevalências brutas para as falhas no PR, observa-se associação com a idade entre 10-19 anos, a situação conjugal, pela ausência de companheiro, a escolaridade, quanto menor fossem os anos de estudo, ter tido acima de duas gestações anteriores, além de ter um pré-natal incompleto (menos de seis consultas), iniciado tardiamente. Quanto ao desfecho, foi evidenciado uma probabilidade duas vezes maior de aborto (até 22 semanas) (RP= 2,02; IC95%: 1,07-3,81) e três vezes maior de prematuro extremo (idade gestacional de 23 a 27 semanas) (RP= 3,39; IC95%: 1,20-9,61). Na análise multivariada, permanece a associação significativa com a faixa etária de 10-19 anos (RP2= 1,52; IC95%: 1,21-1,91), ausência de companheiro, ou seja, serem solteiras (RP2= 1,53; IC95%: 1,23- 1,91), divorciadas (RP2= 1,88; IC95%: 1,27-2,78) ou viúvas (RP2= 2,28; IC95%: 1,78-2,92), serem mulheres multigestas, com o passado de uma (RP2= 1,41; IC95%: 1,10-1,80), duas (RP2= 1,59; IC95%: 1,23-2,05) ou a partir de três gestações (RP2= 2,01; IC95%: 1,59-2,54); a não realização de pré-natal (RP2= 1,48; IC95%: 1,21-1,81) na gravidez que antecedeu ao óbito, ou mesmo seu início tardio, após as 13 semanas, (RP2= 1,20; IC95%: 1,03-1,39); e terem tido como desfecho da gestação um parto prematuro entre 23-27 semanas (RP2= 1,33; IC95%: 1,06-1,65) ou entre 28-34 semanas (RP2= 1,22; IC95%: 1,03-1,45). Garantir e ampliar o acesso ao planejamento reprodutivo impacta diretamente os indicadores da MM, portanto, atender plenamente às necessidades de contracepção das mulheres que desejam evitar a gravidez, através da estruturação dos serviços de planejamento reprodutivo é uma medida de baixo custo e alta efetividade na redução das MM preveníveis.