DRAG QUEENS BRASILEIRAS: Uma análise das suas performatividades de influência em mídias sociais
Drag Queens; Performatividade de Gênero; Influência digital; Consumer Culture Theory; Netnografia.
Esta pesquisa investiga como drag queens brasileiras performatizam influência digital nas mídias sociais, entendendo a influência não apenas como um papel, mas como performatividade, um conjunto citacional de atos corporais, discursivos e imagéticos que tornam-se legíveis, valorizados e circuláveis por audiências, marcas e plataformas. Ancorada na Consumer Culture Theory (CCT) e na teoria da performatividade de gênero de Judith Butler, a pesquisa adota abordagem qualitativa e netnográfica para observar práticas sociomidiáticas de drag queens brasileiras influenciadoras no Instagram, ao longo de 2024, com foco em seis perfis de grande alcance. O desenho interpretativo da pesquisa articula três camadas: (i) um repertório de performances drag (PD01–PD45); (ii) regimes de inteligibilidade (RI01–RI22) que moldam o reconhecível e o valorizável; e (iii) performatividades drags de influência digital (P1–P8) que sintetizam efeitos socioculturais recorrentes. Os resultados mostram que as drags performam influência digital ao combinar competências artísticas e de gestão (montação, humor, moda, canto, didática, curadoria estética, storytelling, métricas), à codificação em linguagens plurais e diferentes formatos de linguagens midiáticas em plataformas (reels, stories, legendas, sons, filtros, memes, trends) e à negociação contínua de normas de gênero, sexualidade, moralidade e consumo. O circuito analítico PD > RI > P evidencia que a influência é efeito performativo relacional, dependente de citacionalidade, reconhecimento e governança algorítmica. A análise consolida oito performatividades que revelam formas organizadas de fazer influência sob condições de plataformização e moralidades, num cenário brasileiro de alta visibilidade drag e persistentes violências anti-LGBTQIAPN+. As contribuições da pesquisa incluem: (a) proposição da influência digital como performatividade; (b) sistematização das performatividades drags (P1–P8) como categorias analíticas aplicáveis a contextos semelhantes; (c) acoplamento entre CCT, performatividade de gênero e regimes de inteligibilidade para explicar a produção de valor simbólico em plataformas; (d) metodologicamente, a pesquisa contribui com a aplicação dos protocolos netnográficos (AKAFans), com atenção ética a populações LGBTQIAPN+; e (e) empiricamente, oferece um mapa denso das linguagens drag em mídias sociais, com implicações para marcas, organizações culturais e políticas públicas (educação plural, diversidade, segurança digital).