(RE)PENSANDO A INOVACAO ENQUANTO UM PROCESSO COLETIVO: UM ESTUDO A PARTIR DAS PRATICAS DA COMARU E SEUS ENTRELACAMENTOS NA REDE SOCIOTECNICA DO EXTRATIVISMO DA CASTANHA-DO-BRASIL
Inovação; Inovação Coletiva; Teoria Ator-Rede; Performatividade; Redes sociotécnicas.
O interesse em explorar novas abordagens para compreender a inovação motivou o desenvolvimento desta tese. Ao problematizá-la como um campo de estudo em constante transformação, buscou-se ampliar o olhar para as discussões contemporâneas que têm valorizado as dinâmicas em rede, os contextos sociais e as experiências comunitárias. Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo analisar como a inovação pode ser compreendida como um processo coletivo, a partir das práticas da Cooperativa COMARU e dos seus entrelaçamentos na rede sociotécnica vinculada ao extrativismo da castanha-do-brasil na Amazônia Oriental. Ancorada nos pressupostos da Teoria Ator-Rede (TAR), a tese desloca o foco da análise para as conexões, evidenciando os vínculos entre atores humanos e não humanos, bem como os modos pelos quais essas relações são constituídas, sustentadas e transformadas ao longo do tempo. Ao considerar a COMARU como um nó transitório de uma rede mais ampla, o percurso metodológico desta tese mobilizou a noção de hinterlands, proposta por Law (2004), como chave para acessar outros territórios que sustentam a produção das realidades e se articulam na rede sociotécnica. O estudo desenvolveu-se a partir da articulação entre observação empírica, análise documental e entrevistas semiestruturadas. Essas técnicas foram mobilizadas de forma não linear e responsiva, acompanhando os deslocamentos e reconfigurações da própria rede. Com base na análise, argumenta-se que a inovação deve ser repensada como um processo coletivo, performativo e situado, que emerge das relações e articulações entre os diversos elementos da rede. Trata-se de um fenômeno enraizado nas condições sociomateriais do território, entendido como expressão viva de identidades, experiências e modos de existência. Longe de seguir lógicas lineares ou planejadas, a inovação se configura por meio de improvisações, negociações e adaptações a dispositivos externos, sem romper com seus contextos de origem. Nesse processo, revela-se também seu caráter político e organizativo, marcado pela capacidade dos sujeitos de construir formas autônomas de governança e criar condições para o surgimento de outras inovações.