Análise do impacto das práticas de ESG no desempenho financeiro das cooperativas de crédito brasileiras
Cooperativas de crédito. ESG. Sustentabilidade. Responsabilidade social corporative. Desempenho financeiro.
Este estudo investiga a relação entre as práticas ESG (ambiental, social e governança) e o desempenho financeiro das cooperativas de crédito brasileiras no período de 2018 a 2023. A relevância desse tema decorre da crescente importância da sustentabilidade no setor financeiro e da escassez de pesquisas que abordem essa temática no contexto específico das cooperativas de crédito. A análise foi realizada por meio de um modelo de dados em painel com efeitos fixos, considerando como variáveis dependentes o ROA e o ROE. A amostra incluiu todas as cooperativas de crédito de singulares do segmento S4 autorizadas a operar pelo Banco Central do Brasil, e os dados de ESG foram obtidos a partir de um questionário abrangendo 45 questões distribuídas entre as três dimensões da sustentabilidade. Os resultados indicam que, no geral, as práticas ESG não apresentam impacto significativo sobre o desempenho financeiro das cooperativas de crédito. O índice ESG apresentou coeficientes negativos e não significativos no modelo de ROA, sugerindo que a adoção dessas práticas não influencia diretamente a rentabilidade operacional das cooperativas. Quando analisadas separadamente, as dimensões ambiental e social também não mostraram efeito significativo sobre o ROA, enquanto a governança teve um impacto negativo e significativo, sugerindo que uma maior conformidade com boas práticas de governança pode estar associada a uma redução da rentabilidade operacional. No modelo de ROE, o índice ESG também não apresentou significância estatística, com exceção da dimensão social, que teve um efeito positivo e significativo, indicando que uma maior ênfase em aspectos sociais pode contribuir para um melhor retorno sobre o patrimônio. Outras variáveis de controle revelaram relações mais consistentes com o desempenho financeiro. O volume de depósitos em relação ao ativo total (DAT) apresentou impacto positivo e altamente significativo tanto no ROA quanto no ROE, reforçando a importância da captação de recursos para a rentabilidade das cooperativas. O tamanho da instituição (TAM) também demonstrou efeito positivo e significativo no ROA, indicando que cooperativas maiores tendem a ser mais lucrativas. As despesas totais sobre o ativo total (DTAT) apresentaram coeficientes positivos e significativos em todos os modelos, sugerindo que investimentos e custos operacionais podem refletir positivamente na rentabilidade. Por outro lado, as variáveis de empréstimos sobre o ativo total (EAT) e outras receitas sobre o ativo total (ORAT) não apresentaram impacto estatisticamente significativo no desempenho financeiro das cooperativas analisadas. Os resultados também indicam uma evolução nas práticas ESG ao longo do período estudado. O índice ambiental cresceu de 6% em 2018 para 19% em 2023, enquanto o índice social passou de 26% para 51% no mesmo período. A governança também apresentou crescimento contínuo, saindo de 37% em 2018 para 60% em 2023. Esses dados sugerem uma maior aderência às práticas de sustentabilidade ao longo do tempo, embora sem reflexo direto na rentabilidade. Este estudo contribui para a literatura ao evidenciar que, para cooperativas de crédito, a incorporação de práticas ESG pode ter efeitos distintos sobre diferentes indicadores de desempenho financeiro, sendo a dimensão social a mais relevante para o ROE. Os resultados também oferecem perspectivas para gestores e formuladores de políticas, destacando a necessidade de estratégias que aliem sustentabilidade e eficiência financeira.