Estudo das heurísticas e vieses na tomada de decisão: estudo de caso no Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco
Decisão heurística; Vieses cognitivos; Desempenho operacional; Polo de Confecções do Agreste.
O processo decisório não é uma abordagem fácil de ser resolvida dada a necessidade de balanceamento das variáveis envolvidas e o anseio de se atender a objetivos conflitantes. No contexto das empresas do Polo de Confecções do Agreste (PCAP), esse processo assume uma complexidade ainda maior em virtude da imprevisibilidade inerente ao mercado da moda, da coexistência de empresas formais e informais e da incorporação de familiares nas funções mais qualificadas e melhor remuneradas nas empresas. A tomada de decisão, nessas empresas, acontece geralmente de forma individual, sem o uso métodos ou modelos sistemáticos de decisão e baseada na experiência dos gestores, que utilizam heurísticas decisórias como atalhos para lidarem com suas limitações cognitivas e a complexidade da tarefa de decisão, limitando o potencial de crescimento de cada empresa individualmente. No entanto, ao olhar os dados do PCAP de maneira global, percebe-se um crescimento significativo do setor, que impulsiona o mercado local, e o torna representativo – economicamente e socialmente – tanto para a região quanto para o país. Diante dessa problemática, o desenvolvimento deste estudo se dedica à análise do processo decisório heurístico, com o intuito de compreender como as práticas de decisão das empresas do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco influenciam seu desempenho operacional, considerando que operam em um cenário de decisões complexo e incerto. Metodologicamente, a pesquisa realizada é de natureza básica, exploratória e observacional, utilizando uma abordagem qualitativa para interpretação dos resultados, amparada no paradigma funcionalista. Optou-se pelo estudo de caso único com a análise das evidências seguindo a técnica de análise de conteúdo temática. A pesquisa foi operacionalizada a partir da seleção de dez micro e pequenas empresas atuantes no PCAP. Os resultados indicaram a existência da relação entre fatores de aspectos pessoais dos gestores e fatores contextuais da tarefa de decidir na influência das práticas decisórias, especialmente, atrelados ao excesso de confiança na tomada de decisão, experiência no negócio, pressão do decisor, limitação no processamento de informações e ambiguidade informacional e pressão por conformidade. Ao serem mapeadas as heurísticas decorrentes dessa influencia, observou-se a recorrência da heurística da disponibilidade em primeiro lugar, seguida pela heurística da ancoragem e ajuste, apontando para a adoção de atalhos mentais segundo a facilidade com que as ocorrências vêm à mente do decisor e a estimativa ancorada em um valor de referência inicial, respectivamente. Apesar das ineficiências apontadas pelas teorias decorrentes desses resultados anteriores, a pesquisa indicou que o polo se desenvolve na medida em que essas práticas heurísticas estimulam a concorrência, exigindo que cada empresa individual responda rapidamente às estratégias das demais, facilitam a dinâmica de trabalho ao gerar de empregos formais, informais, diretos e indiretos, e a aumentam a produtividade local ao obter ganhos de escala pela baixa variedade de produtos. Dessa forma, mesmo as práticas de decisão das empresas restrinjam seu desenvolvimento individual, o cenário gerado no polo como um todo, compensa as limitações das decisões heurísticas, fazendo com que o polo se desenvolva.