TRABALHO EM COOPERATIVAS DE PLATAFORMA E PRECARIZAÇÃO: Reflexões a partir de uma Cooperativa de Entrega por Bicicleta em São Paulo.
trabalho; cooperativismo de plataforma; precarização do trabalho.
Nas últimas décadas o mercado de trabalho mundial foi extremamente alterado pelas influências do processo de digitalização implantado nas empresas a partir do uso das tecnologias digitais nos processos de produção, gestão de pessoas e marketing de produtos e serviços. As empresas passaram a aderir ao modelo de plataformas digitais para adentrar em mercados geográficos antes não alcançados, de modo a aproveitar as facilidades tecnológicas para reduzir os custos de pessoal e custos de produção e, aumentar as chances de geração de lucros. Com isso, o capitalismo de plataforma alcançou avanços através das plataformas digitais. Contudo, não houve benefícios sociais mais amplos, a exemplo do aumento das condições precárias do trabalho flexivél e digital que muitos trabalhadores passaram a enfrentar no trabalho, como: longas jornadas, falta de segurança física, aumento dos custos com equipamentos e materiais, diminuição de direitos trabalhistas, vigilância excessiva de comportamentos, diminuição do poder de participação e organização dos trabalhadores. Em contraposição aos efeitos de concentração de propriedade da internet e das consequências da precarização do trabalho surge no ambiente acadêmico da The New School em Nova York, Estados Unidos, discussões sobre a necessidade de mudanças na propriedade da internet e no cenário de precarização do trabalho por plataformas, liderado pelo professor Trebor Scholz, criador do termo Cooperativismo de plataforma para referir-se ao novo modelo de propriedade coletiva da internet e de organização democrática do trabalho, concretizado com o modelo das Cooperativas de Plataformas. Essa pesquisa tem o objetivo de compreender as implicações sociais e econômicas recebidas pelos(as) trabalhadores(as) de Cooperativas de Plataforma de modo alternativo às condições de precarização comuns à economia de plataforma. O estudo é caracterizado como pesquisa qualitativa básica (Merriam, 1998), de dimensão interpretativa, os métodos de coleta de dados utilizados foram as entrevistas abertas, a observação participante, e os documentos, a análise dos dados qualitativos foi feita através da análise temática do conteúdo (Bardin, 2011). Os sujeitos e o lócus desta pesquisa foram os ciclista entregadores da cooperativa Giro Sustentavel Entregas que realizam entregas exclusivamente por bicicletas na cidade de São Paulo-SP. Os resultados apontam que as implicações econômicas do trabalho na cooperativa de plataforma são: o fluxo da atividade de entrega é mais padronizado e personalizado ao cliente, diferenciando-se do fluxo caracterizado pela produtividade jus in time das plataformas digitais, também há uma previsibilidade da quantidade de trabalhos que possibilita a estabilidade do ritmo das atividades de entregas, reduzindo a intensificação do trabalho; as implicações sociais do trabalho são: a inserção local e social dos entregadores na cooperativa ocorre por meio da decisão pelo estabelecimento de um local de trabalho fixo, também a redução na jornada de trabalho, e a melhoria nas condições de trabalho que favorecem a saúde do trabalhador. Contudo, os entregadores ciclistas enfrentam ainda situações decorrentes da precarização do trabalho, como a violência urbana seja por meio das ameaças ou de perseguições de motoristas de carro, o baixo valor dos salários, e a falta de direitos trabalhistas.