ESTUDO FITOQUÍMICO E ATIVIDADES BIOLÓGICAS In Vitro DO ÓLEO ESSENCIAL DE Piper aduncun L. E MODELAGEM MOLECULAR DO DILAPIOL FRENTE A PROTEÍNAS RELACIONADAS AO DESENVOLVIMENTO TUMORAL
Piper; Compostos Fitoquímicos; Dilapiol; Anticâncer.
O câncer representa uma das principais causas de mortalidade global e impõe elevado impacto socioeconômico. Diante das limitações das terapias convencionais, compostos naturais têm se destacado como fontes promissoras de agentes antineoplásicos. Entre eles, o gênero Piper, rico em metabólitos secundários como terpenoides e fenilpropanóides, apresenta diversas atividades biológicas, como acaricida, antibacteriaba, larvicida e citotóxica. Piper aduncum L., em especial, possui o dilapiol como componente majoritário, com potencial citotóxico já descrito na literatura. Assim, o estudo buscou caracterizar o óleo essencial de P. aduncum e avaliar seu potencial antitumoral in vitro e in silico, com foco nas propriedades farmacocinéticas e toxicológicas do dilapiol. O óleo essencial foi analisado por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-MS) e submetido aos ensaios antioxidantes de 2,2-difenil-1-picril-hidrazil (DPPH), 2,2-azinobis(3-etilbenzotiazolina-6-ácido sulfônico) (ABTS) e atividade antioxidante total (ATT). A citotoxicidade foi avaliada frente às linhagens tumorais humana HL-60 (leucemia promielocítica), HT-29 (câncer de cólon), HeLa (câncer cervical), MCF-7 (adenocarcinoma de mama) e não tumorais L929 (fibroblastos de camundongo) e VERO (células epiteliais de rim de macaco verde), utilizando o ensaio de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difenil brometo de tetrazólio (MTT). O dilapiol também foi testado na linhagem de maior sensibilidade no teste de citotoxicidade (HeLa), sendo posteriormente avaliada a morfologia celular. Além disso, investigou-se o potencial hemolítico do óleo em hemácias humanas e a citotoxicidade em células mononucleares de sangue periférico (PBMCs). As análises in silico do dilapiol foram realizadas por meio das plataformas SwissADME, Molinspiration e Osiris Property Explorer, incluindo estudos de docagem molecular com as proteínas MDM2, tubulina e Bcl2-xL. A CG-MS revelou o dilapiol como componente principal (58,58%) do óleo essencial. O óleo também apresentou atividade antioxidante com CE50 de 114,80 e 400,40 μg/mL para ATT e ABTS, respectivamente, e citotoxicidade significativa nas linhagens HeLa (93,37 %) e HT-29 (82,71 %) na concentração de 50 μg/mL sem efeitos significativos em células não tumorais. O tratamento das células HeLa por 24 h com o óleo essencial e o dilapiol induziu alterações morfológicas compatíveis com apoptose e autofagia, com efeito dose-dependente. O óleo promoveu apoptose nas concentrações entre 12,85 e 51,38 μg/mL, enquanto o dilapiol apresentou os mesmos efeitos em menores concentrações (2,08 –8,30 μg/mL), indicando maior potência citotóxica. Nas análises in silico, o dilapiol apresentou massa molecular de 222,24 g/mol, cLogP de 2,43, quatro aceitadores de ligação de hidrogênio e TPSA de 36,92 Å2, sem violações à Regra dos Cinco de Lipinski. Demonstrou alta absorção gastrointestinal, capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, Drug Score de 0,27, inibição seletiva da isoforma CYP1A2 e baixo risco de toxicidade crônica. Os estudos de docagem indicaram interação do dilapiol com MDM2 e tubulina por ligações de hidrogênio e carbono-hidrogênio, sugerindo interferência na divisão celular e indução de apoptose. Em síntese, o óleo essencial de P. aduncum demonstrou atividade antioxidante e citotoxicidade significativa frente a células tumorais, com o dilapiol se destacando também com atividade citotóxica marcante. Os resultados in silico também reforçam o potencial antitumoral do dilapiol, embora sejam necessários estudos in vivo e avaliações adicionais de segurança para confirmar sua viabilidade terapêutica.