DO CHÃO ONDE O RIO DERRAMA BROTA VERVE FEMININA: PROCESSOS
EDUCATIVOS E POIÉSIS NAS EXPERIÊNCIAS DE POETISAS DO SERTÃO DO PAJEÚ
Sertão do Pajeú; poesia; educação; mulheres.
Esta cartografia segue movimentos educativos vividos e produzidos no território do Sertão do
Pajeú, microrregião de Pernambuco, Brasil, conhecido pela cultura da poesia popular.
Impulsionado pelo desejo em acompanhar em que medida as memórias, as experiências e a
poesia de poetisas contemporâneas do Sertão do Pajeú indicam processos educacionais de
subjetivação atravessados pelos marcadores de gênero, o mapa contempla linhas que apontam
para movimentos pajeísticos intencionais e não intencionais dispostos no território, localizados
na interface estética-cultura-educação e que transmitem e transformam a singularidade do
Sertão do Pajeú no cotidiano das relações intersubjetivas e na produção poética. A poiésis é o
impulso que gera os movimentos pajeísticos e que neles está contida, vivido na ordem simbólica
e material dos acontecimentos. Entretanto, tais movimentos não estão fora de tramas do poder
que, com base em marcadores sociais da diferença, promovem desigualdades na maneira como
a poiésis aparece histórica e culturalmente. Dentre esses marcadores, o gênero surge neste mapa
como ideia de horizonte capaz apontar as linhas em direção às experiências e às poesias de
mulheres que fazem do Sertão do Pajeú o seu território existencial e de fazer artístico. Na
aproximação, a cartografia compôs uma montagem junto à abordagem fenomenológica e
antropológica da imaginação (Durand, 2012; 2014; Bachelard, 1978); e à escrita-enquanto-
método (Richardson, 2003). Juntas, foram propostas metodológicas que orientaram a
construção do mapa e a realização dos ciclos de conversas com poetisas e glosadoras, tornadas
co-cartógrafas, que compõem o Grupo Mulheres de Repente. Através das reflexões
compartilhadas com autoras/es como bell hooks (1995; 2013; 2018; 2019; 2020; 2021; 2022),
Judith Butler (2015; 2018), Deleuze e Guattari (1995; 1996; 1997; 2011), Michel Foucault
(1979; 2006; 2013; 2014), Linda Nochlin (2016: 2018), Fayga Ostrower (2014), Walter
Benjamin 1994; 2009; 2019), dentre tantas/os outras/os, nos aproximamos das narrativas das
poetisas que, por sua vez, indicam experiências atravessadas pelo gênero, dentro e fora do
Mulheres de Repente. Quanto ao grupo, acompanhamos a sua aparição enquanto assembleia,
estar-junto que se manifesta nas dimensões da organicidade e de agenciamentos coletivos
politicamente engajados e que reivindicam a singularidade do território para revertê-la em favor
da poesia de mulheres.