MUSEU DA PARTEIRA: MULHERES, PARTEIRAS E COMADRES TECENDO PATRIMÔNIOS E
MUSEUS
parteiras; patrimônios; comadrio; museus
Ao ajudar uma mulher a dar à luz, parteiras tradicionais tornam-se comadres daquelas às quais prestaram
assistência. O estabelecimento de laços sociais a partir do nascimento da prole principia uma relação que se entende para
a vida e que constroi sentidos pautados na experiência cotidiana de mulheres, em memórias do âmbito doméstico e no
compartilhamento de conhecimento. Essa rede de afeto, confiança, trocas e sociabilidade, embasa a noção de comadrio,
estrutural na construção da argumentação dos aspectos patrimoniais relativos ao ofício de parteira tradicional para fins de
reconhecimento oficial junto ao IPHAN. Juntamente com as noções de simbiose, cuidado e atenção integral, a ideia de
uma rede de mulheres que se apoiam e se cuidam a partir da maternidade foi acionada como articuladora de saberes e
práticas relevantes para a constituição da memória brasileira. A demanda pela patrimonialização articulou outras
mulheres - antropólogas, pesquisadoras, ativistas - em um processo de construção de um museu promotor de atividades e
ações voltadas à documentação, à promoção e à difusão das mulheres, do ofício e dos saberes relacionados fabricando
narrativas e produzindo práticas não hegemônicas de agenciamento no campo patrimonial e museológico. O presente
trabalho busca refletir sobre o modo e as estratégias nas quais o ofício de parteira vem sendo posto em pauta no debate
público e sobre como o Museu da Parteira atua como mediador e importante agente a partir de sua característica
principal: a relação entre comadres.