A arte de rua nas romaria: tramar, tecer e performar o extraordinario nos palcos em Juazeiro do Norte
Romaria de Juazeiro do Norte; Artistas de Rua; Antropologia da Performance; Fricção; Cosmopolítica.
Esta tese tem por objetivo uma contribuição para a antropologia da romaria de Juazeiro do Norte - CE a partir das interações entre artistas de ruas e romeiros nas ruas da cidade. A pesquisa de campo, desenvolvida entre 2016 e 2018, baseia-se em metodologia qualitativa com observação participante e entrevistas semiestruturadas, em constante diálogo com metodologias da antropologia e dos estudos da performance, para analisar a formação dos palcos de rua que apontam para o que podemos qualificar como uma dinâmica romeira caracterizada pela fricção entre fé e arte. Após situar a presente etnografia no campo e na literatura, enaltecendo mudanças e permanências do ritual, descrevo a formação de um drama romeiro se localizando não mais nos rituais da romaria, nem nos espetáculos dos artistas de rua, mas nas interações entre eles e os romeiros, na rua. Para isso analiso as diferentes naturezas de performances à luz da análise de « frames » e das perspectivas turnerianas do drama social e estético, até identificar formações de liminaridades e communitas marcadas por um certo realismo-mágico que reverte o balanço esperado entre extraordinário e o cotidiano. As fricções e mise en abyme provocadas pelos diversos rituais e experiências dos romeiros e artistas de rua borram constantemente seus respectivos papéis de atores sociais, performers e públicos nas ruas juazeirenses em estado de romaria. O cenário dessas ruas acaba em produzir um verdadeiro palco, onde se tecem tramas transformando a romaria em um evento cosmopolítico, no qual a cosmologia romeira é descentrada e irrompida pelos diálogos entre diferentes vozes, universos simbólicos e sociopolíticos, que no encontro de suas estruturas sociais e de experiências, se tornam protagonistas de um outro evento, « não tão religioso », « não tanto artístico assim », mas a arena daqueles que se reconhecem como uma expressão particular daquilo que constitui o ponto de convergência de todos.