“NÓS SOMOS AMADOS?”: os cruzamentos entre raça e as relações afetivo românticas dos jovens
negros.
Afetividades negras; racismo estrutural; juventude negra; interseccionalidade; amor e
racialidade; solidão afetiva; hipersexualização; colonialidade do amor; desejo racializado; resistência afetiva
Esta dissertação investiga as experiências afetivo-românticas da juventude negra pernambucana, considerando
as interseccionalidades entre raça, gênero e classe na construção das dinâmicas amorosas. A pesquisa parte da
premissa de que o amor, longe de ser um campo neutro, é atravessado por dispositivos de racialidade que
historicamente regulam o desejo e a legitimidade das relações afetivas. Com base em um referencial teórico
fundamentado nos escritos de autoras e autores negros como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, bell hooks, Grada
Kilomba e Kabengele Munanga, analisamos as formas como o racismo estrutural impacta a subjetividade da
população negra no campo amoroso. Os dados foram coletados por meio de entrevistas narrativas com jovens
negros e negras de Pernambuco, permitindo compreender as vivências de preterimento, fetichização e exclusão
afetiva. A dissertação revela que as escolhas amorosas da juventude negra são marcadas por um regime racial
de desejo, em que a branquitude se estabelece como norma de beleza e pertencimento, enquanto a negritude é
ora invisibilizada, ora hipersexualizada. Para as mulheres negras, esse fenômeno se manifesta na solidão
afetiva e na desvalorização do seu corpo como espaço de amor e cuidado. Já os homens negros enfrentam a
dualidade entre a hipervirilização e a criminalização, o que limita suas possibilidades de construção de
vínculos afetivos saudáveis. A dissertação também discute a colonialidade do amor e a forma como o projeto
de embranquecimento impacta as relações inter-raciais, promovendo a valorização de casais inter-raciais como
estratégia de ascensão social, enquanto as relações exclusivamente negras são frequentemente vistas como
espaços de carência e conflito. Além disso, a pesquisa evidencia a ressignificação do amor negro como uma
estratégia de resistência e reafirmação identitária, na qual a juventude negra constrói novas formas de
pertencimento afetivo e redes de cuidado. A análise final sugere que as afetividades negras precisam ser
compreendidas dentro de um projeto de reestruturação epistemológica, que valorize as experiências da
população negra como legítimas e dignas de afeto. O amor negro, nessa perspectiva, se torna um ato político,
um espaço de insurgência contra as estruturas coloniais que ainda regulam o campo do desejo e do
reconhecimento social. Diante disso, a pesquisa reforça a necessidade de um debate mais aprofundado sobre a
intersecção entre raça e amor, ampliando as discussões acadêmicas para além das perspectivas eurocêntricas e
reconhecendo as subjetividades negras como centrais na produção de conhecimento.