SABERES DA CAATINGA: ETNOGRAFIA DE UM ENCONTRO DE CURANDEIRAS, CURANDEIROS e
MESTRES DE CULTURA DA CHAPADA DO ARARIPE
Antropologia; Etnografia; Caatinga; Saberes tradicionais; Encontro de Saberes da Caatinga; Cuidado
Comunitário; Raizeiras; Cuidado Humano e Multiespécie; Antropologia Ambiental
A dissertação insere-se no campo da antropologia, com foco na etnografia do evento “Encontro de Saberes da Caatinga”, buscando
também atenção às interações entre humanos e não humanos no contexto do bioma Caatinga. O ponto de partida da pesquisa, o Encontro de
Saberes da Caatinga, é um evento anual realizado na Chapada do Araripe, onde raizeiras/os, meizinheiras/os, benzedeiras/os, rezadeiras,
rezadores e parteiras compartilham suas práticas e saberes com a comunidade local e visitantes.
O estudo adota uma metodologia etnográfica baseada na imersão em campo, que envolveu a participação ativa da pesquisadora no Encontro
de Saberes da Caatinga, realizado em julho de 2022, além de outras visitas anteriores e subsequentes à Chapada do Araripe. A pesquisa
abarcou observações, entrevistas e a convivência prolongada com dois interlocutores principais do evento e região: Antônio Sampaio Alencar
e Maria Silvanete Benedito de Sousa Lermen, protagonistas desse evento e guardiões de saberes tradicionais do território. Essas interlocuções
possibilitaram uma análise das práticas de cuidado e das formas de interação entre humanos e não humanos na Caatinga, bem como dos
desafios contemporâneos enfrentados na região.
Através de um olhar antropológico, busca-se evidenciar como as soluções encontradas por comunidades locais podem oferecer alternativas
viáveis para crises que acontecem a nível global, como a crise na produção de cuidado em relação à saúde humana, em interlocução com as
crises climática e socioambiental que estão em curso. A pesquisa propõe, assim, uma reflexão crítica sobre as fronteiras entre o conhecimento
científico e o saber popular, destacando a relevância das práticas locais para a criação de novas formas de cuidado e sustentabilidade humana,
comunitária e multiespécie.
Esta dissertação também visa contribuir para o debate teórico contemporâneo que envolve a Antropologia Ambiental, os Estudos do
Antropoceno e a Ecologia das Práticas, dialogando com autores como Isabelle Stengers, Anna Tsing, Donna Haraway, Vinciane Despret e
outras. O trabalho lança luz sobre as formas como as inteligências coletivas das ditas periferias do mundo, como as que existem e se
constituem-se a partir do território e comunidades do Sertão do Araripe e do bioma da Caatinga, desafiam a dicotomia entre centro e
periferia na produção de conhecimento e soluções para grandes crises que assolam os territórios e a humanidade. A compreensão das
potencialidades dos saberes populares e tradicionais voltados para o cuidado da saúde humana e multiespécie como alternativas críticas às
narrativas dominantes de progresso e desenvolvimento parece urgente de ser evidenciada no mundo contemporâneo que busca soluções de
enfrentamento a problemas cada vez mais compartilhados em diversas regiões do Brasil e também do globo terrestre.
Assim, o percurso traçado nesta pesquisa busca não apenas documentar o Encontro de Saberes da Caatinga, mas também oferecer um espaço
de reflexão sobre as contribuições das práticas encontradas e vivenciadas pelo grupo que faz o evento na região afim de contribuir para a
compreensão das potencialidades dos saberes populares e tradicionais como alternativas críticas às narrativas dominantes sobre cuidado e
saúde humana, ambiental, progresso e desenvolvimento.