DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS PARA CONTROLE DE QUALIDADE DE CANABINOIDES EM ÓLEOS MEDICINAIS DE CANNABIS.
Cannabis; Infravermelho; HPLC-DAD; Quimiometria; Controle de Qualidade.
Os produtos medicinais à base de Cannabis representam uma estratégia terapêutica alternativa para tratar diversas doenças, incluindo a epilepsia refratária, especialmente em crianças. Estudos demonstram que o canabidiol (CBD) pode reduzir significativamente os episódios convulsivos. Diante disso, a ANVISA regulamentou a importação de extratos medicinais de Cannabis em 2015, seguido das partes da planta em 2016 e do registro de produtos de Cannabis em 2019. Os produtos disponíveis nas farmácias são escassos e de alto custo, o que tem favorecido o crescimento no país da produção de preparações caseiras/artesanais de Cannabis, feitas por familiares de pacientes e associações sem fins lucrativos. Essas preparações, por não serem regulamentadas pela ANVISA, necessitam de avaliação do conteúdo de canabinoides para assegurar sua eficácia terapêutica. Este trabalho propõe o desenvolvimento de métodos analíticos robustos, rápidos e acessíveis para o controle de qualidade de óleos medicinais de Cannabis. Utilizaram-se métodos convencionais como cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC-DAD) e métodos de baixo custo como espectroscopia de infravermelho próximo (NIR) em equipamentos portáteis, apoiados por ferramentas quimiométricas. Amostras de óleos de Cannabis produzidos por associações foram analisadas, sendo quantificados cinco canabinoides principais: CBDA, THCA, CBD, Δ⁹-THC e CBN. Nos óleos, a presença de alguns canabinoides pode fornecer informações sobre a qualidade do produto, além de informações relativas a falhas no processo de produção. Por exemplo, a presença de CBN indica degradação do Δ⁹-THC, enquanto a presença das formas ácidas (CBDA e THCA) sugere que a descarboxilação do material vegetal foi inadequada. Os resultados revelaram que nenhuma amostra apresentou a mesma porcentagem de Δ⁹-THC e/ou CBD declarada no rótulo, variando significativamente entre 0,3% e 145% do conteúdo informado. Além disso, foram detectados níveis de CBN, THCA e CBDA, com concentrações máximas de 0,25%, 2,21% e 1,71%, respectivamente. Relatos de associações indicam que as quantidades declaradas frequentemente referem-se ao extrato bruto da planta, não necessariamente aos canabinoides específicos (CBD ou Δ⁹-THC). Embora Cannabis ssp. ainda não seja considerada uma planta medicinal no Brasil, a rotulagem dos óleos medicinais de Cannabis deve seguir padrões similares aos produtos fitoterápicos padronizados, indicando tanto a porcentagem do extrato bruto quanto do CBD ou Δ⁹-THC presentes. As análises por infravermelho revelaram capacidade promissora para distinguir amostras com diferentes teores de canabinoides.