A População LGBTQIAP+ como Sujeito da Justiça Climática na Cidade do Recife.
Justiça Climática; Clima Queer; LGBTQIAPN+; Ecofeminismo; Recife.
Na presente dissertação, analisa-se a relação entre justiça climática e corpos LGBTQIAPN+ na cidade do Recife, tomando como objeto central de estudo o Coletivo Clima Queer, suas práticas políticas, pedagógicas e comunitárias, bem como as formas de produção de conhecimento que emergem de suas ações nos territórios. O trabalho investiga a pesquisa realizada pela iniciativa, suas oficinas, metodologias e modos de engajamento, buscando compreender como o coletivo constitui um espaço de resistência e reinvenção diante da crise climática. O objetivo desta pesquisa consiste em compreender em que medida o Clima Queer opera como um campo epistêmico e político que articula corpo, território e meio ambiente, produzindo saberes, afetos e estratégias coletivas que tensionam a cisheteronorma dominante nas políticas climáticas. Parte-se da constatação de que as respostas estatais e institucionais à emergência climática permanecem ancoradas em perspectivas universais e abstratas, que desconsideram desigualdades estruturais de raça, classe, gênero e orientação sexual, invisibilizando, assim, corpos dissidentes como sujeitos das políticas climáticas. A metodologia combina revisão teórica com investigação empírica sustentada por uma abordagem interseccional, fenomenológica e de pesquisa-ação, desenvolvida por meio de questionários, entrevistas, grupos focais e dinâmicas participativas, articuladas às oficinas e atividades formativas conduzidas pelo Clima Queer em diferentes territórios da cidade. A partir das vivências compartilhadas nesses espaços, a pesquisa examina como pessoas LGBTQIAPN+ compreendem os impactos das mudanças climáticas e constroem repertórios sensibilizadores que unem cuidado, arte, memória e incidência política. Essas narrativas permitem identificar que a crise climática, longe de ser um fenômeno neutro ou universal, intensifica desigualdades já enraizadas pelo colonialismo, pela moralidade cisheterossexual e pela precarização da vida nas periferias urbanas. Teoricamente, o estudo fundamenta-se em perspectivas decoloniais, ecofeministas e queer, dialogando com autoras e autores como Malcom Ferdinand, Greta Gaard, Jota Mombaça e Donna Haraway. A partir desse arcabouço, propõe-se o conceito de “ecologia queer” como chave analítica para compreender as interseções entre corpo, território e ambiente, bem como para tensionar os limites das narrativas hegemônicas na justiça climática. A análise evidencia que o Clima Queer constitui uma metodologia comunitária de resistência, capaz de converter vulnerabilidade em potência política e de produzir modos outros de existir, cuidar e imaginar futuros possíveis. Ao visibilizar essa experiência no contexto do Sul Global, a dissertação contribui para ampliar os horizontes das pesquisas em Direitos Humanos, afirmando que enfrentar a crise climática exige também reinventar formas de vida, de pertencimento e de cuidado, sobretudo aquelas que envolvem corpos historicamente marcados como descartáveis pelas racionalidades modernas-coloniais.