ESCREVIVENDO A VIOLENCIA DOMESTICA: narrativas de mulheres negras atendidas no Centro de Referencia da Mulher Maria Neuma da Silva Lira de Caruaru/PE
violência doméstica; mulheres negras; escrevivência; interseccionalidade; políticas públicas.
Esta dissertação teve como objetivo compreender os sentidos atribuídos por mulheres negras às
suas experiências de violência doméstica e às políticas públicas que as atravessam. A pesquisa
partiu da pergunta: Quais significados mulheres negras atribuem às vivências de violência
doméstica e às políticas públicas de enfrentamento? Com referencial teórico ancorado no
feminismo negro e decolonial, especialmente nas contribuições de Patricia Hill Collins, bell
hooks, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez e Carla Akotirene, a investigação utilizou a escrevivência
como caminho epistemológico e a análise interseccional situada como método de análise das
narrativas. A metodologia adotou abordagem qualitativa, com entrevistas narrativas e
semiestruturadas realizadas com quatro mulheres negras atendidas pelo Centro de Referência
da Mulher Maria Neuma da Silva Lira, em Caruaru/PE. A escuta sensível e ética permitiu
desvelar múltiplas dimensões da violência, marcadas por raça, classe, gênero e território, além
da presença de violências institucionais e da fragmentação das políticas públicas. As narrativas
revelaram também potências de resistência, subjetividades em movimento e estratégias de
reexistência tecidas por essas mulheres. Conclui-se que as políticas públicas de enfrentamento
à violência precisam romper com a lógica universalista e incorporar uma perspectiva
interseccional, antirracista e decolonial, centrada nas experiências concretas das mulheres
negras. Ao privilegiar a escuta como ferramenta política, esta pesquisa reafirma o lugar das
mulheres negras como sujeitas epistêmicas, produtoras de saberes e protagonistas de suas
histórias.