Territórios Persistentes: Uma Leitura Arqueológica Das Ocupações De Longa Duração Nos Cânions Do Rio São Francisco, Bacia Do Talhado – Alagoas.
Arqueologia da persistência; Cânions do São Francisco; Práticas culturais; Paisagens arqueológicas; Territorialidade.
Nesta tese, desenvolvo uma reflexão sobre os paradigmas da arqueologia
histórica praticada no Nordeste do Brasil, os quais tendem a interpretar os
contextos pós-contato sob a ótica da ruptura, tomando o período colonial
como marco de descontinuidade cultural. A partir da perspectiva da
persistência, analiso práticas e saberes entre os assentados da Bacia do
Talhado, situada na região dos cânions do São Francisco, em diálogo com
o registro arqueológico local. A pesquisa adota metodologias
participativas, como a etnoarqueologia, a história oral e a cartografia social,
com o objetivo de investigar práticas agrícolas, o uso de artefatos (pilões,
cestos, cerâmicas, pigmentos) e as formas simbólicas de apropriação do
território. Os dados revelam uma justaposição de temporalidades e a
ressignificação contínua de elementos arqueológicos pelas comunidades
locais, frequentemente invisibilizadas pelas classificações tradicionais da
arqueologia. Discuto a escassez de abordagens diacrônicas nos estudos
arqueológicos voltados à região dos cânions do São Francisco, onde o
predomínio de análises centradas em ocupações pré-coloniais ou em
tipologias materiais tem limitado a compreensão dos processos históricos
de longa duração. Esses enfoques restringem a apreensão das maneiras
pelas quais grupos contemporâneos mobilizam e atualizam repertórios
culturais em seu cotidiano, articulando materialidade, memória e
identidade. Reviso criticamente a categoria “sítios de contato”,
frequentemente utilizada para caracterizar contextos marcados pela
presença simultânea de tecnologias indígenas e materiais associados ao
período colonial. Nos cânions do São Francisco, essa classificação tem
operado como marcador de assimilação à lógica colonial, obscurecendo
dinâmicas locais de resistência, adaptação e reinvenção cultural.
Argumento que tais sítios devem ser compreendidos não apenas como
espaços de transição, mas como paisagens ativas, atravessadas por
múltiplas temporalidades e práticas de (re)existência. Proponho, assim,
uma leitura arqueológica sensível à complexidade histórica desse
território, atenta às formas de agência das comunidades locais e às
continuidades culturais que atravessam o tempo. A tese busca contribuir
para os debates sobre a arqueologia da persistência, ampliando os
horizontes interpretativos sobre o patrimônio arqueológico enquanto
expressão das experiências sociais, políticas e simbólicas do presente.