Arqueologia do Envelhecimento: Análises comparativas dos contextos sociobiológicos do envelhecimento entre sítios
arqueológicos do Nordeste do Brasil, de 9000 a 500 anos antes do presente.
Envelhecimento; Arqueologia do Envelhecimento; Pré-história do Nordeste do Brasil; Arqueologia Funerária;
Bioarqueologia
Esta tese investiga o fenômeno do envelhecimento sob uma
perspectiva arqueológica, focando especificamente nos
remanescentes ósseos humanos envelhecidos do Nordeste
do Brasil. O estudo é impulsionado pelo problema da baixa
representatividade de indivíduos envelhecidos nos registros
arqueológicos, o que tem sido um desafio significativo para
entender os aspectos sociobiológicos e ambientais do
envelhecimento em populações passadas. A pesquisa
propõe que o envelhecimento possa ser visto como um
fenômeno sociobiológico complexo, influenciado por uma
variedade de fatores, incluindo condições ambientais, estilo
de vida e mudanças biológicas. Ao examinar os
remanescentes ósseos que importam à diagnose e
interpretação, este estudo visa esclarecer determinados
marcadores biológicos do envelhecimento, suas implicações
socioculturais e paleoambientais em sociedades pré-
históricas. Partindo de uma prova de método, a pesquisa
demonstrou que múltiplas técnicas tradicionais de estimativa
de idade à morte são imprecisas para a identificação de
indivíduos envelhecidos na população local. Em contraste,
uma técnica baseada na análise morfológica da superfície
auricular do ílio provou ser mais confiável para estimar a
idade de adultos envelhecidos em populações locais. Este
método foi particularmente eficaz em casos onde a
preservação dos remanescentes ósseos era limitada. Além
disso, o estudo destaca a importância de combinar
diferentes biomarcadores de envelhecimento para melhorar
a precisão das estimativas de idade e auxiliar na
identificação inferencial dos indivíduos envelhecidos,
considerando a complexidade do fenômeno. Essa proposta
demonstrou-se satisfatória e crucial para interpretar o
processo de envelhecimento e identificar indivíduos
envelhecidos em contextos arqueológicos, onde as
condições de preservação muitas vezes limitam a
disponibilidade de elementos esqueléticos necessários para
o uso das técnicas. Os achados ressaltam a necessidade de
considerar o envelhecimento como um processo
multifacetado que engloba e depende de dimensões
biológicas, sociais e culturais. Ainda, a pesquisa
demonstrou como as mudanças climáticas e as estratégias
de subsistência impactaram a longevidade entre as
comunidades estudadas, demonstrando a influência do
meio na qualidade de vida e no envelhecimento
populacional. A tese defende uma abordagem holística e
fenomenológica para o estudo do envelhecimento,
integrando dados osteológicos com relatos etnográficos e
históricos para proporcionar uma compreensão abrangente
de como o envelhecimento era experimentado e percebido
no Nordeste pré-histórico do Brasil. Em suma, esta pesquisa
contribui de maneira significativa para o campo da
bioarqueologia ao proporcionar novas e aprofundadas
perspectivas sobre o envelhecimento como um fenômeno
multifacetado e dinâmico, que vai além do simples dado
etário. Ao explorar o envelhecer, não apenas como um
processo biológico, mas como um constructo sociocultural
complexo, a pesquisa revela como diferentes indivíduos
envelheceram no contexto da pré-história do Nordeste do
Brasil e quais as implicações sociais que podemos perceber
por meio desse envelhecimento. Ela destaca a importância
de empregar uma nova metodologia de identificação e uma
abordagem interdisciplinar, que integra contribuições da
gerontologia, para desvelar as nuances e as
particularidades do envelhecimento nas populações
passadas. Este olhar mais atento e multifacetado não só
enriquece nosso conhecimento sobre as dinâmicas sociais e
culturais de tempos remotos, mas também oferece reflexões
profundas sobre como o envelhecer, enquanto experiência
humana, se articula com o tempo, os contextos históricos e
as transformações das sociedades ao longo do tempo.