NEM TUDO QUE RELUZ É OURO... E NEM TUDO O QUE BRILHA É GRAFITE: reflexões sobre a cerâmica grafitada a partir do estudo de caso do sítio Canaã e das contribuições da Arqueologia Comportamental e Experimental
Grafite; grafitado; cerâmica arqueológica; escolhas técnicas; experimentações.
O grafite é utilizado desde quando não se há lembrança. O mineral foi
utilizado por grupos ceramistas desde o final do Neolítico, tendo atingido
grande popularidade durante a Idade do Ferro no cenário internacional.
A cerâmica grafitada pode ser considerada um fenômeno global, pois
ocorre em pelo menos três continentes – América, África e Europa – até
onde se há conhecimento proporcionado por pesquisas arqueológicas e
mesmo etnográficas. O grafitado no contexto brasileiro de pesquisa de
material cerâmico indígena é abordado nesta tese a partir de uma
perspectiva tecnológica, fazendo uso dos preceitos oferecidos pelo
arcabouço teórico da Arqueologia Comportamental, sobretudo através
dos conceitos de escolha técnica, feedback e design. Assim, o objetivo
central desta tese é investigar o uso e o propósito do grafite em
cerâmicas arqueológicas quanto a aspectos tecnológicos e funcionais, a
partir do material cerâmico experimental e do estudo de caso do acervo
do sítio Canaã, oriundo do Vale do Rio Colônia, sul da Bahia. Para tanto,
fez uso de: reconstituição tridimensional dos objetos cerâmicos; testes
laboratoriais de permeabilidade e condutividade térmica com as
cerâmicas arqueológicas; análises arqueométricas; e Arqueologia
Experimental que, através da confecção de recipientes cerâmicos, teve o
intuito de testá-los para verificar a funcionalidade, simulando a utilização
das vasilhas. Obteve-se dados quanto à funcionalidade, composição
química e à ocorrência da cerâmica grafitada no tempo e no espaço.
Ademais, os dados obtidos a partir da confecção de vasilhas grafitadas e
a sua consequente utilização, somados aos resultados dos testes com
água e calor aos quais os fragmentos arqueológicos e as vasilhas
experimentais foram submetidos, permitiram compreender o propósito
do uso do mineral na cerâmica, visto que o grafite possui propriedades
que aumentam a performance de uma vasilha quanto à permeabilidade
e quanto à condução de calor. Conclui-se que o grafitado era utilizado
num contexto doméstico para maximizar a eficiência de uma vasilha
durante o seu uso. Ademais, conjectura-se o seu provável aspecto social,
decorativo e simbólico entre os grupos que produziram e utilizaram tal
cerâmica.