MEMÓRIA E IDENTIDADE RELIGIOSA AFRICANA NOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS COLONIAIS TAPERAGUÁ-AL E JAGUARIBE-PE
Arqueologia Funerária, Modificações Dentárias, Corpos Adornados, Religiosidade Africana e Identidade Africanas
Durante o período colonial, o Brasil viu a chegada forçada de
milhares de africanos, destinados à escravidão nos engenhos do
Nordeste. Carregando consigo apenas memórias e saudades de sua
terra e povo, esses indivíduos conseguiram reconstruir suas
culturas, religião e rituais sociais únicos. Mesmo diante das
dificuldades e opressão de uma sociedade escravagista que buscava
apagar suas identidades, eles resistiram e persistiram, garantindo a
perpetuação de suas tradições. Neste estudo, são analisadas as
mudanças dentárias, duas pulseiras de ferro e a ancestralidade de
quatro indivíduos sepultados nos sítios arqueológicos de Taperagua
em Marechal Deodoro, AL, e Engenho da Sesmaria em Jaguaribe,
Abreu e Lima, PE, durante o período colonial. Foram consideradas
as seguintes hipóteses: a) a investigação das mudanças nos dentes,
juntamente com os adornos em forma de pulseira (Idés) de
indivíduos sepultados dentro de ambientes como engenhos e
espaços em frente às igrejas, podem revelar a identidade cultural e
social de africanos libertos ou escravizados; b) esses elementos
simbolizam a resistência, adaptabilidade e a perseverança dos
grupos afro-diaspóricos; c) as relações sociais destacadas especial-
mente pelo corpo decorado, adornado e os significados das perfor-
mances religiosas funcionam como engrenagens de determinadas
expressões identitárias africanas passíveis de interpretação arqueo-
lógica. A análise do contexto arqueológico de práticas funerárias,
onde o corpo, a sepultura e os ornamentos contam a história dos
grupos que moldaram suas identidades a partir dos rituais fúnebres,
assim como o uso de vestimentas e adereços corporais que
representam uma cosmovisão compartilhada por aqueles que
partilham das mesmas ideologias é desenvolvida em uma Arqueo-
logia Funerária, aliada à arqueologia biológica, que desempenhou
um papel significativo nas análises explicativas e interpretativas de
maneira sistemática sobre as hipóteses e questões formuladas.
Assim, as modificações nos dentes e os Idés demonstram a presença
de traços culturais dos indivíduos africanos enterrados em ambas as
áreas. Nesse contexto, a investigação apontou que as mudanças
dentárias e os Idés são manifestações exclusivas da identidade
cultural simbólica de um corpo ornamentado e embelezado, capazes
de refletir as interações sociais e religiosas próprias dos indivíduos
africanos.