O uso de um artefato computacional como suporte ao desenvolvimento do raciocínio covariacional em função
Ensino e aprendizagem de funções. Tecnologias computacionais. Transposição Informática. Gênese Instrumental. Geogebra
O raciocínio covariacional em função envolve pensar em termos de como uma variável varia em relação à variação na outra variável. A covariação está ligada ao desenvolvimento histórico do conceito de função e é importante para conceitualizar ideias fundamentais do Cálculo. Ao passo que pesquisas na área têm apontado dificuldades dos estudantes para raciocinar covariacionalmente, tecnologias computacionais têm sido utilizadas para apoiar o raciocínio covariacional, no entanto, pouca atenção é dada a como aspectos da representação matemática no meio computacional (transposição informática) resultam em novas possibilidades e restrições que influenciam a atividade e o desenvolvimento conceitual. Nesse contexto, este estudo teve por objetivo investigar os efeitos do uso de um artefato computacional no raciocínio covariacional dos estudantes, e a sua relação com a transposição informática da covariação nesse artefato. Utilizamos a lente da Abordagem Instrumental com o suporte da noção de esquema de Vergnaud para compreender como sujeitos mobilizaram o raciocínio covariacional nas suas gêneses instrumentais com o software Geogebra e analisamos o papel que aspectos da transposição informática tiveram nesse processo. A metodologia consistiu de um estudo de casos múltiplos da gênese instrumental de três licenciandos em Matemática que exploraram situações de covariação concebidas no software Geogebra. O estudo envolveu um experimento de ensino estruturado por orquestrações instrumentais, a aplicação de um questionário e de entrevistas baseadas em tarefas. Uma análise microgenética foi aplicadaaos dados com foco no uso instrumentado do Geogebra e na mobilização do raciocínio covariacional dos estudantes, que foi inferida nos seus esquemas e nas suas descrições da covariação. Os resultados mostraram como aspectos da transposição informática e suas relações com o uso instrumentado do Geogebra pelos estudantes influenciaram nas contribuições e restrições para o seu raciocínio covariacional. Destacou-se a gênese instrumental de ferramentas de suporte à coordenação da covariação contínua e à quantificação da variação em y com acréscimos constantes em x, além da conexão dinâmica e simultânea entre representações, para uma interpretação covariacional dos aspectos do gráfico, da variação variável e da variação negativa. Por outro lado, os esquemas mobilizados pelos estudantes para explorar situações envolvendo covariação complexa e para esboçar o gráfico covariacionalmente mostraram-se limitados. Neste último aspecto, foi revelada a influência de esquemas convencionais desenvolvidos no ambiente papel e lápis, baseados na abordagem de correspondência e em um pensamento de forma estática, o que apontou a necessidade do desenvolvimento de esquemas que articulem as possibilidades do meio computacional às formas de representar o gráfico covariacionalmente. As dificuldades com a interpretação da variação negativa e o papel que a representação da variação por segmentos dinâmicos exerceu nesse contexto, apontou a necessidade de levar em conta restrições e possibilidades geradas na criação de novos objetos e significados no design de materiais didáticos no meio computacional, processo que propusemos caracterizar como uma transposição informática de segunda ordem.