LEITURA E ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: SENTIDOS PRODUZIDOS POR CRIANÇAS E PROFESSORAS EM PROCESSOS DE APRENDIZAGEM COMPARTILHADA
Criança. Infância. Leitura. Escrita. Prática docente. Educação infantil.
A presente pesquisa investigou as práticas de leitura e escrita na educação infantil, a partir dos sentidos produzidos por crianças (de três a cinco anos) e suas professoras, bem como das interações entre esses sujeitos na construção compartilhada de conhecimentos sobre a linguagem escrita. Considerando a complexidade dos aspectos que constituem os campos teóricos da Linguagem Escrita e da Educação da Primeira Infância, buscamos contribuir para o debate sobre o tema numa abordagem interpretativa dos processos de interação da criança pequena com a escrita e com o outro no contexto da instituição educativa. Em um processo investigativo que se construiu em interlocução com docentes e crianças, realizamos entrevistas com duas professoras que atuavam em uma instituição de educação infantil da rede municipal de ensino do Recife, observação participante e rodas de conversa com essas educadoras e seu grupo de crianças. O processo de produção e análise dos dados ancorou-se nos autores dos estudos da criança (CORSARO, 2005, 2009; SARMENTO, 2003, 2004, 2015) e nos estudos do campo da linguagem escrita (BRANDÃO; LEAL, 2010; BRANDÃO; ROSA, 2021; MORAIS 2012; SOARES 2011a, 2011b, 2019, 2020). Constatamos que as duas professoras buscaram planejar e encaminhar situações envolvendo a aprendizagem da linguagem escrita nos eixos da apropriação do Sistema de Escrita Alfabética e do letramento em um trabalho amalgamado por diferentes concepções de linguagem, de aprendizagem, de criança e de educação infantil. Também observamos que as docentes mobilizaram estratégias de mediação que ajudaram as crianças tanto na apropriação da cultura escrita quanto na reflexão sobre a notação escrita. Porém, os arranjos interativos e a organização do tempo nas práticas de leitura e escrita se revelaram como duas categorias pouco sintonizadas com as especificidades da educação infantil, sobretudo no grupo 5, possivelmente, em virtude da aproximação com o ensino fundamental. As crianças dos dois grupos vivenciaram experiências de exploração da linguagem escrita, mesmo sem o direcionamento ou a autorização dos adultos, indicando a necessidade de maior conexão entre prática docente e culturas da infância. Por fim, os dados indicam que os sentidos produzidos pelos sujeitos sobre as práticas de leitura e escrita são tecidos em uma complexa rede de ações e discursos que desenham o cotidiano e somente podem ser compreendidos de maneira relacional, a partir das subjetividades que se constroem e se revelam no contexto específico de cada grupo. Concluímos ainda que as trajetórias e experiências profissionais das professoras, as experiências pessoais das crianças e as expectativas de suas famílias são alguns aspectos que atravessam esses sentidos, afetando os sujeitos e sendo por eles afetados.