Testemunho e fantasia no cinema de Víctor Erice: bordejar as cifras dos acontecimentos na reivindicação de uma experiência da história
Víctor Erice; cinema moderno; experiência da história.
O trabalho investiga como o cinema do realizador espanhol Víctor Erice reivindica a experiência da história e que efeitos isso inscreve no aspecto formal dos seus filmes. O corpus do trabalho compreende os longas metragens O Espírito da Colmeia (1973), O Sul (1983) e o curta-metragem Alumbramiento (2002). Trata-se de filmes que resgatam o período logo após o fim da Guerra Civil Espanhola através de tramas familiares e de uma atmosfera elegíaca. O trabalho sustenta a hipótese de que o cinema de Erice reivindica a experiência da história através de um bordejo na cifra dos acontecimentos que tramam as dimensões narrativas, diegéticas e formais dos filmes. Para isso, coloca em cena o fenômeno da suspensão das fronteiras entre o testemunho e a fantasia; o realismo e a poesia; a ficção e o documentário; o que pertence ao universo diegético e o que pertence ao aspecto formal dos filmes, produzindo uma sensação de estar em atraso com o domínio desses registros. Nesse sentido, argumentamos, também, que não somente é a experiência da história referenciada ao contexto do pós Guerra Civil Espanhola que se apresenta nos filmes, como também a própria condição de aparição do histórico, na medida em que não é na representação contextual que os filmes inscrevem a sua aurora, mas na própria crise de representação que a sua forma de narrar anuncia.