O gesto e as imagens híbridas contemporâneas: uma análise dos documentários Era o Hotel Cambridge (2016), Swinguerra (2019) e Agora (2020).
gesto; imagem híbrida; cinema brasileiro; tableau vivant; pintura; fotografia.
O presente trabalho busca analisar o aparecimento do gesto no cinema contemporâneo brasileiro, a sua relação com as imagens híbridas contemporâneas e a sua dimensão política, especificamente nos documentários Era o Hotel Cambridge (2016), de Eliane Caffé, Swinguerra (2019), de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, e Agora (2020) de Déa Ferraz. Para isso, a pesquisa se propõe a discutir as seguintes questões: de que forma o gesto aparece nesses filmes? Como o poder expressivo do gesto se relaciona com as imagens híbridas, entre os atravessamentos do cinema, fotografia, teatro e pintura? Qual é a dimensão política que a aparição do gesto atinge em tais filmes? Segundo o filósofo Giorgio Agamben, “No fim do século XIX, a burguesia ocidental havia definitivamente perdido seus gestos. ” (P. 51, 2015). Tal sentença à princípio bastante determinante, afinal é possível perdemos nossos gestos? Se refere ao momento do capitalismo avançado que havia capturado os gestos mais habituais do homem, como o caminhar e o falar. Esses não conseguiam desempenhar um movimento completo sem a interrupção por tiques, maneirismo e espasmos. Em uma sociedade que havia perdido seus gestos, no cinema existe a busca por sua reapropriação e registro da perda como também atesta Agamben (2015). Analisar os três filmes que compõem o corpus da pesquisa é também uma tentativa de atestar a sobrevivência do gesto no cinema contemporâneo. Para compreender a natureza do gesto é necessário compreender o seu poder expressivo que no texto Por uma Política e Uma Ontologia do Gesto (2018), o filósofo utiliza como exemplo a fantasmata. Esta se refere a um momento da dança, defendido pelo coreógrafo Domenico da Piacenza, em que existe uma pausa repentina entre o movimento que antecede e sucede a coreografia. Nesse sentido, a questão da interrupção do movimento é essencial para pensarmos a natureza do gesto e podemos encontrar uma atualização das discussões sobre as imagens híbridas através do “dispositivo tableau vivant”, onde a tênue relação entre movimento e imobilidade é essencial para tal prática. Diante das colocações acima, a presente pesquisa busca ampliar os estudos da comunicação sobre o gesto, assim como a atualização do debate sobre as imagens híbridas, pois acredita que trará contribuições especialmente no campo da estética e política. Além de abrir caminho para novas interpretações das imagens contemporâneas.