As vidas gestuais das vozes: dublagem e performance na cultura midiática
Campo dos Estudos Sobre Voz; Teoria da Performance; Corpo; Escuta; Gesto.
A tese se dedica a investigar articulações entre vozes e gestos na cultura midiática, atravessando performances do cinema, da música e do cotidiano a partir de enquadramentos de atos dublados, que, compreende-se, ajudam a reunir pistas sobre as dinâmicas audiovisuais da performance e sobre os fluxos entre produtos midiáticos e cotidiano. Nesse sentido, uma noção expandida de dublagem, que abarca práticas fílmicas, modos performáticos de sincronia labial e performances de escuta, é tomada como mote para investigação de performances, objetivando pressionar as corporeidades produzidas por dinâmicas audiovisuais. Em um primeiro momento, então, desenvolve-se uma discussão teórica sobre como dublagens tendem a iluminar espaços “entre” das performances, discutindo processos relacionais das vozes, esquemas de trocas gestuais e tecnologias de produção de sujeitos. Em seguida, discute-se mais especificamente os estudos sobre vozes, visando compreender o que eles nos informam sobre variadas concepções de corpo e suas formações pelas tecnologias midiáticas. Em um segundo momento, passa-se a investigar como a dublagem tem sido abordada enquanto uma estratégia de construção de corpo nos meios audiovisuais. Para tal, investiga-se a soprano Marni Nixon – visando refletir sobre a formação do corpo audiovisível nas práticas do cinema e as tecnologias de distinção operadas nele – e o contratenor de ópera Jakub Jozef Orlinski, objetivando investigar o papel da dublagem de atuar como relatos em videoclipes, especialmente em plataformas digitais. Por fim, os vínculos estreitos entre produtos audiovisuais e performances cotidianas são enquadrados, consolidando esquemas de trocas gestuais. Tal investigação se inicia a partir do estudo da aparição do comediante Jefferson Schroeder, que se articula com as dublagens de tradução no Brasil, modulando diversas vozes, e com a investigação de práticas de escutas de música, em que a dublagem aparece efemeramente como técnica de escuta que se articula com modelos de sujeição. Cada performance dublada nos leva a lidar com teorias sobre cinema, música e produções de sujeito, abordando discussões sobre corpo e voz, atravessando práticas cênicas e cotidianas, muitas vezes colocando tais eixos teóricos sob pressão. Em cada um dos casos investigados – bem como nos levantamentos teóricos feitos – vozes são dobradas diversamente e produzem consigo os sujeitos com quem se articulam, abrindo espaços em que tecnologias se fazem visíveis e audíveis, em que gestos aparecem a partir de seus trânsitos e em que a voz não pertence nem a um nem a outro sujeito – criando momentos propícios para investigar cada uma dessas operações.