O JORNALISMO INDEPENDENTE E A PANDEMIA EM PERNAMBUCO: Narrativas de interesse público na cobertura do portal Marco Zero Conteúdo
Construção Social da Realidade; Covid-19; Democracia Deliberativa; Jornalismo Independente; Webjornalismo
A pandemia da Covid-19 tornou-se o principal tema de pautas do jornalismo em todo o mundo no biênio 2020/2021. Nesta pesquisa, analisamos o enfoque narrativo adotado pelo jornalismo independente em Pernambuco no noticiário sobre o assunto. A análise incide especificamente sobre o portal Marco Zero Conteúdo, principal coletivo independente de notícias do Estado, buscando desvendar os enquadramentos adotados nas narrativas desse veículo, notabilizado pela preocupação com temas de interesse de das periferias, de grupos socialmente excluídos e de movimentos sociais. Com base na metodologia de análise da narrativa jornalística proposta por Luiz Gonzaga Motta (2013), procuramos identificar a existência de uma relação intersubjetiva entre os narradores, os temas abordados e a audiência a que se dirigem. Embora se utilizem de
recursos retóricos semelhantes aos adotados pela grande mídia, o jornalismo independente toma como base o paradigma construtivista, desvinculando-se dos escudos da objetividade e imparcialidade sob os quais o jornalismo tradicional busca se proteger e eximir-se de envolvimento com os fatos noticiados. O recorte temporal desta pesquisa engloba os primeiros seis meses da pandemia em Pernambuco, entre março e setembro de 2020, configurado como o mais crítico da “primeira onda”. Analisamos 94 reportagens publicadas pelo coletivo, que revelam a preocupação de contribuir para uma compreensão da pandemia, bem como das medidas e ações adotadas – ou negligenciadas – pelos gestores públicos, cientistas e outras entidades responsáveis pela prevenção e combate à crise sanitária, oferecendo informações colhidas junto a setores oficiais e alternativos, tanto no campo de pesquisa científica como nas comunidades e bastidores políticos. Nossa pesquisa buscou marcos teóricos propostos por autores que trabalham a narrativa jornalística, a construção social da realidade, a democracia e a esfera pública, a exemplo de Motta (2006; 2013; 2017), Habermas (1997; 2002; 2012), Schudson (2010), Traquina (2016), Correia (2005) e Castells (2000; 2013). Concluímos com a proposição de que o webjornalismo independente, enquanto mídia alternativa e democrática, tem muito mais a contribuir para a construção social da realidade que a imprensa tradicional.