PRODUÇÃO DA NOTÍCIA DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19: impactos do "novo normal" na rotina produtiva das mulheres jornalistas.
jornalismo; divisão sexual do trabalho; estudos de gênero;rotina produtiva do jornalismo; economia política da comunicação
As rotinas de trabalho sofreram alterações no contexto da pandemia da covid-19, como a adoção do home office e a adaptação do ambiente doméstico para abrigar demandas do campo profissional. O jornalismo também foi impactado, uma vez que ele é uma prática social, marcado por um processo de reinvenção permanente (ADGHIRNI, 2012), e foi atravessado por mudanças na forma de apurar a notícia e contactar as fontes, atividades
essas realizadas, em muitas vezes, com equipamentos pessoais e adaptadas às possibilidades existentes no ambiente doméstico. Com isso, as fronteiras entre o público e o privado ficaram borradas, potencializando a acumulação de trabalho produtivo e reprodutivo pelas mulheres. Nosso problema de pesquisa buscou compreender quais são os impactos gerados pela pandemia sobre a rotina produtiva das jornalistas que atuam em veículos de comunicação localizados no Distrito Federal, em Brasília, na editoria ‘Política’, e como eles interferem na produção da notícia. Os objetivos específicos estiveram centrados em mostrar quais são as mudanças nessa rotina durante a pandemia; descrever as implicações de ser mulher no mercado profissional do jornalismo; definir quais são os impactos das mudanças laborais na rotina produtiva das mulheres; descrever como os impactos nas condições de trabalho das mulheres jornalistas afetam a produção da notícia e entender qual é a perspectiva dessas mulheres sobre o momento que atravessam. Para isso, realizamos uma revisão bibliográfica; entrevistas abertas, semiestruturadas, com jornalistas de diferentes veículos de comunicação e faixas etárias; e uma análise de conteúdo qualitativa dos registros orais dessas jornalistas. Utilizamos como aporte teórico os estudos sobre a teoria do jornalismo (VIZEU, 2014; TUCHMAN, 1999; ROCHA, 2018; BERGAMO; MICK; LIMA, 2012; TRAVANCAS; 1993) e da Economia Política da Comunicação (MOSCO, 2010; VELOSO; 2013). Em complemento a essas perspectivas, recorremos à Habermas (1984) e Silvia Federici (2017) para discorrermos acerca da mudança estrutural da esfera pública, apoiando-nos, ainda, nos estudos sobre violência simbólica (BOURDIEU, 2002) e de gênero (SAFFIOTI, 2004; HIRATA, 2009 ). Os resultados deste estudo apontam para a existência de novos critérios de noticiabilidade durante a pandemia e a sobrecarga das jornalistas, com impactos para a construção social da realidade por meio das notícias.