CARACTERIZAÇÃO DA DEGLUTIÇÃO E PERFIL CLÍNICO DO PACIENTE CRÍTICO ACOMETIDO PELA COVID-19 PÓS-INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL PROLONGADA
Deglutição, Transtorno de Deglutição; Covid-19; Unidade de Terapia Intensiva
Os casos críticos de COVID-19 são admitidos em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), podendo desenvolver a síndrome respiratória aguda grave, que por sua vez pode gerar um quadro de pneumonia extremamente preocupante. Por ter características bem específicas e de difícil manejo, na maioria dos casos, há necessidade de intubação orotraqueal prolongada (IOTp), podendo evoluir com comprometimentos inerentes ao suporte ventilatório e imobilização prolongada, como: função pulmonar comprometida, fraqueza muscular e transtornos na voz e deglutição. O objetivo desta dissertação foi analisar o impacto da condição clínica do paciente crítico acometido pela COVID-19 e submetido à IOTp sobre a deglutição, a voz e os resultados da intervenção fonoaudiológica para retirada de via alternativa de alimentação. O estudo tem caráter retrospectivo de corte transversal, com amostra composta por 103 indivíduos, que foram submetidos a IOTp, avaliados e acompanhados pelo serviço de fonoaudiologia na beira do leito, internados na UTI. A coleta foi realizada a partir das análises dos prontuários fonoaudiológicos, referentes à avaliação miofuncional orofacial, funcional da deglutição, utilizando o julgamento clínico do Protocolo de Risco para Disfagia - PARD e dados do acompanhamento fonoaudiológico até desmame da via alternativa de alimentação. Dos prontuários médicos e fisioterapêuticos foram extraídos os dados relacionados a alguns parâmetros da condição clínica, durante o período de março de 2020 a janeiro de 2021, ocasião da primeira onda pandêmica. Os dados coletados foram analisados por meio do software Statistical Package for Social Sciences - SPSS, versão 21.0, considerando-se o nível de significância a 5%. Os resultados deste estudo revelaram alterações vocais e de deglutição na maioria dos pacientes. As associações entre condição clínica, loudness vocal e deglutição evidenciaram que: uso de bloqueadores neuromusculares, presença de fraqueza muscular, deterioração clínica e presença de duas ou mais comorbidades, são associadas estatisticamente à alteração de deglutição e redução da loudness vocal. O uso de bloqueador neuromuscular e corticoide, presença de fraqueza muscular, disfunção clínica mensurada pelo SOFA e sexo masculino, estão associados ao aumento de risco de desenvolver alterações de voz e deglutição, podendo interferir no número de sessões fonoaudiológica para desmame de via alternativa de alimentação e/ou na conduta fonoaudiológica inicial adotada no acompanhamento de indivíduos acometidos por essa doença. Portanto, concluise que a condição clínica do indivíduo com COVID-19, submetido à IOTp pode levar a alterações da voz e deglutição e quanto mais comprometida estiver a condição clínica desses indivíduos, maior será os comprometimentos vocais e de deglutição. Destaca-se que tais alterações podem ser restabelecidas com segurança, mediante acompanhamento fonoaudiológico, após a extubação orotraqueal.